por Herley Leite de Paula e Silva
Introdução
Este assunto já tratado em Paula e Silva (2024, p. 16-19), em meu primeiro livro, porém agora vou tentar expô-lo de outra maneira e abordar alguns pontos que não foram tratados no primeiro trabalho.
A Física Quântica é uma área da ciência que chama bastante atenção desde meados do século XX. Ela está sujeita a muitas interpretações desde então e acredito que é uma grande aliada da espiritualidade nos dias de hoje. O idealismo filosófico, conforme exposto neste trabalho, utiliza bastante a Física Quântica.
Um dos principais pontos desta disciplina científica é o estudo das possibilidades quânticas, também conhecidas como superposições quânticas ou funções de onda. É algo estarrecedor pensar que os objetos do dia a dia que nos parecem tão reais, consistem em possibilidades ou ideias de um domínio transcendente.
Explicando o princípio da incerteza
O princípio da incerteza foi desenvolvido pelo físico Werner K. Heisenberg em 1927. Ele estabelece que não podemos medir, simultaneamente, a posição e a velocidade de uma partícula como o fóton ou o elétron. E não se trata de não ter as ferramentas de medida necessárias ou mesmo a metodologia correta. Simplesmente estas duas variáveis, posição e velocidade, não podem ser medidas ao mesmo tempo (Goswami, 2007, p. 57, 58; Greene, 2005, p. 121-124).
O princípio da incerteza é uma das regras que definem as possibilidades quânticas da matéria. Assim, um elétron, por exemplo, está sujeito à dualidade onda-partícula. É como se ele tivesse uma natureza dupla. Porém, só podemos medir uma das grandezas de cada vez. Se medirmos a qualidade onda, não podemos conhecer a qualidade partícula e vice-versa.
Essa impossibilidade de se medir, ao mesmo tempo, os atributos onda e partícula não se deve a uma ignorância ou falta de recursos de nossa parte, mas é consequência de um outro princípio que diz que as propriedades da matéria são definidas pela consciência. É a consciência que escolhe as leis da natureza, a constantes físicas e a posição e velocidade das partículas. É a consciência que decide se um objeto subatômico, em um dado momento, vai ser uma onda ou uma partícula.
O experimento da fenda dupla
Uma das maneiras de se comprovar a existência das possibilidades quânticas e do princípio da incerteza é a experiência da dupla fenda. Você prepara o experimento com uma fonte de elétrons, um anteparo dotado de duas fendas verticais, um detector e uma placa fluorescente. A princípio, você deixa o equipamento emitir uma grande quantidade de partículas e as direciona para as duas fendas do anteparo ou barreira.
À medida que os elétrons passam pelas fendas do anteparo e chegam à placa fluorescente do outro lado, forma-se um padrão de interferência nessa placa. Esse padrão consiste em várias faixas verticais mais iluminadas, alternadas com faixas escuras. Isso ocorre porque cada elétron, como também é uma onda, interfere consigo mesmo antes de chegar à placa fluorescente. Neste caso, cada partícula passa pelas duas fendas ao mesmo tempo. Este é o ponto mais chocante do experimento. E é devido a esse fenômeno do elétron passar pelas duas fendas e interferir consigo mesmo que ocorre o padrão de interferência.
Mesmo se você emitir um elétron de cada vez, cada partícula vai passar pelas duas fendas ao mesmo tempo, interferir consigo mesma e formar uma padrão de interferência. Isso ocorre porque o elétron é uma onda de possibilidade quântica que existe em um domínio transcendente, fora do espaço e do tempo. No momento que a partícula passa pelas duas fendas, ela é uma onda, uma ideia, e não um objeto convencionalmente “real”. Essa onda descreve duas possibilidades para a trajetória do elétron, sendo uma para cada fenda do anteparo.
Há um momento, porém, que é feita uma mudança do experimento. Coloca-se, então, um detector de partículas ao lado de uma das fendas da barreira. Quando o detector é ligado, enquanto os elétrons vão se dirigindo às fendas, desaparece o padrão de interferência na placa fluorescente. Em vez disso, aparecem apenas duas faixas iluminadas, cercadas por um fundo escuro. Essas duas faixas refletem exatamente o que poderia ser esperado de uma partícula “real”. As partículas passam pelas fendas numa trajetória reta e atingem a placa. Nesse caso, elas não interferem consigo mesmas. Em vez de ondas, agora elas são simples partículas (Goswami, 2007, p. 88-96).
No momento em que o detector é ligado, as ondas de possibilidade que estavam em um domínio transcendente, e que apontavam para várias direções virtuais, agora se tornam uma partícula que segue uma trajetória definida. Como entender isso? É o que vamos ver a seguir.
O livre-arbítrio e a escolha das possibilidades
Vimos que no experimento da dupla fenda, quando o detector é ligado as ondas de possibilidade se convertem em partículas do mundo real. Porém, qual é a diferença entre ligar ou não um detector? Um detector também é feito de matéria e emite partículas subatômicas. E mesmo colocando o dispositivo ao lado de apenas uma das fendas, os elétrons que passam pela fenda onde não está o aparelho também se comportam como partículas e não com ondas.
Na verdade, o que define se um objeto quântico vai ser uma partícula ou uma onda é a consciência do observador ou experimentador. O detector apenas permite que nossos olhos e nosso cérebro entrem em contato com a trajetória da partícula. E, é claro, o detector, os olhos e o cérebro também são feitos de ondas de possibilidade. Uma possibilidade não converte outra potencialidade em um evento “real” do mundo físico. É a consciência quem transforma a onda de possibilidade quântica em uma partícula localizada.
Quando organizamos o experimento da dupla fenda sem o detector, nossa consciência tem a intenção de observar um fenômeno de ondas e quando instalamos o detector em uma das fendas, temos a intenção de observar uma partícula. E o resultado ocorre exatamente de acordo com a nossa intenção. Nós vemos uma onda ou uma partícula de acordo com a maneira que organizamos o experimento e de acordo com a vontade de nossa consciência (Goswami, 2006, p. 51-53; Goswami, 2007, p. 93).
A escolha feita pela consciência não ocorre apenas nos casos em que decidimos entre observar ondas ou partículas. A consciência também tem o poder de escolher por qual fenda a partícula vai passar e o local que ela vai atingir na placa fluorescente. Então, por que os resultados dos experimentos de dupla fenda parecem tão aleatórios? Há outras experiências, diferentes da que estamos analisando, como as realizadas pelos parapsicólogos, em que os resultados não são aleatórios (Goswami, 2005, p. 59-61). Porém, no experimento da dupla fenda, a consciência decide não fazer uma escolha ostensiva e deixa o resultado seguir a matemática da probabilidade quântica. Por isso, o resultado tem essa aparência de aleatoriedade (Goswami, 2008, p. 216).
A consciência coletiva e o mundo consensual
É a consciência que decide entre as diversas possibilidades quânticas. Porém, como explicar a concordância das escolhas entre todas as pessoas? Se cada um fizer uma escolha diferente sobre a realidade, o mundo não vai se tornar um caos?
Essa concordância ocorre porque a consciência é coletiva, e não apenas individual. Esse aspecto coletivo da mente revela uma interconexão entre todos os indivíduos. Se duas pessoas estiverem interconectadas de modo quântico não-local, elas vão fazer a mesma escolha. Experimentos já demonstraram isso (Goswami, 2005, p. 49-54).
A consciência nunca teve princípio e nunca terá fim. Ela é eterna. E os aspectos individual e coletivo igualmente sempre existiram. O aspecto coletivo cria a uniformidade da escolha para os aspectos fundamentais da realidade.
O aspecto coletivo guarda uma memória universal, bem como os arquétipos ou padrões fundamentais da mente e da realidade física. Essa função é aproximadamente o que Carl G. Jung chamava de inconsciente coletivo. A consciência coletiva conserva, então, as leis do universo. E o aspecto individual exerce a autoconsciência, o livre-arbítrio e forma as características da personalidade.
Note que não existem duas consciências independentes, ou separadas, mas sim dois aspectos da mesma realidade. No aspecto coletivo, a pessoa está identificada com todo o universo e, no aspecto individual, identifica-se com seu ego.
As consciências individuais estão unidas na consciência coletiva através da não-localidade quântica. Este é o assunto que vamos ver na próxima seção.
Como entender a não-localidade quântica
Vamos entender agora o que é a não-localidade quântica ou conexão não-local. Dois elétrons ou dois fótons podem ser colocados em um estado de entrelaçamento, de modo que eles ficam conectados ou emaranhados de modo quântico. Após estarem emaranhadas, as partículas são direcionadas para locais distantes uma da outra. Contudo, se fizermos uma medição em uma das partículas e detectarmos um determinado valor, a outra partícula apresentará um valor contrário, caso também seja medida. As duas partículas se comportarão como se fossem parte de um todo, mesmo que estejam a quilômetros de distância uma da outra (Goswami, 2005, p. 47-49).
Essa conexão entre as partículas não se explica pelas leis da física clássica e nem pelas formas de energia com as quais estamos familiarizados. É uma interconexão feita pela consciência, que ocorre num domínio transcendente, fora do espaço e do tempo.
Outro exemplo de comunicação não-local é a telepatia, em que duas pessoas podem se comunicar através do pensamento, independentemente da distância entre elas.
Tudo no universo está interconectado de modo não-local, inclusive as partículas e as individualidades. Porém, essa interconexão é potencial. Todos nós estamos potencialmente conectados através de uma consciência coletiva. E esse entrelaçamento quântico pode ser reforçado através das relações sociais, da amizade e da meditação.
Assim, pudemos analisar alguns conceitos básicos sobre a Física Quântica. Nos próximos artigos, vamos nos aprofundar um pouco no assunto.
Referências
Goswami, Amit. A Física da Alma; tradução Marcello Borges – São Paulo: Aleph, 2005.
Goswami, Amit. A janela visionária: um guia para a iluminação por um físico quântico. Tradução: Paulo Salles. São Paulo: Cultrix, 2006.
Goswami, Amit. O Universo Autoconsciente: como a consciência cria o mundo material. Tradução: Ruy Jungmann. – São Paulo: Aleph, 2007.
Goswami, Amit. Deus não está morto: evidências científicas da existência divina. Tradução: Marcello Borges. São Paulo: Aleph, 2008.
Greene, Brian. O Tecido do Cosmo: o espaço, o tempo e a textura da realidade. Tradução: José Viegas Filho. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
Paula e Silva, Herley Leite. O Místico Idealista. Não publicado. Curitiba, 2024.