por Herley Leite de Paula e Silva
Introdução
Antes da leitura deste texto, recomendo que o leitor examine os artigos “As Bases Científicas da Consciência - A Física Quântica”, “Sobre a Teoria da Decoerência” e “O Gato de Schrödinger”, aqui mesmo neste blog.
Existem várias objeções à teoria idealista da física quântica, e neste artigo vamos tratar de algumas delas. As mais conhecidas são a tese de que os detectores causam o colapso quântico, a Teoria da Decoerência, a Teoria dos Muitos Mundos e a Teoria das Variáveis Ocultas.
A ideia de que a placa fluorescente causa o colapso quântico
Objeção: No experimento da dupla fenda é a placa fluorescente que mede o elétron.
Respostas:
No experimento da dupla fenda, se a placa fluorescente realizasse a medição, não haveria o padrão de interferência. Não se formariam as várias faixas verticais na tela. (Goswami, 2006a, p. 74).
A placa também fica em estado de superposição, pois também é um objeto quântico. A placa faz a amplificação do elétron e cria milhões de partículas superpostas. (Goswami, 2006a, p. 75).
O efeito de interferência só desaparece quando um ser consciente faz a medição. (Goswami, 2006a, p. 75).
A ideia de que o choque do elétron com o detector causa o colapso quântico
Objeção: É o choque físico dos elétrons do detector com o elétron do experimento da dupla fenda que causa o colapso quântico.
Respostas:
Há o experimento de resultado nulo, uma variação da experiência Stern-Gerlach, em que não há contato entre o átomo e o detector. Neste caso, é colocado apenas um detector, por exemplo, na trajetória para cima. Mesmo que o detector não dispare, há o colapso quântico. (Betz, 2016).
No experimento da escolha retardada o fóton sofre colapso no passado, mesmo sem contato com o detector. (Goswami, 2005, p. 56-58).
Na correlação quântica de dois fótons a medição que fazemos em um dos fótons afeta seu companheiro a quilômetros de distância, sem qualquer contato físico. (Robsville, 2013).
Os elétrons do detector também permanecem em estado de superposição quântica. (Goswami, 2007, p. 115, 120).
Em nenhum momento o elétron é tocado fisicamente por qualquer coisa. (Wikipédia, 2013).
Um agente paranormal também pode realizar colapso quântico sem nenhum contato físico com o equipamento. (Goswami, 2006a, p. 110, 111).
A ideia de que o detector causa o colapso quântico
Objeção: É o detector que causa o colapso quântico.
Respostas:
Na experiência da dupla fenda, não é o detector que causa o colapso, pois ele também é um objeto quântico e permanece em estado de superposição. (Goswami, 2007, p. 120, 128).
A placa fluorescente também não causa o colapso quântico A placa faz a amplificação dos elétrons, que ficam em superposição quântica. A própria placa deve também entrar em superposição quântica. (Goswami, 2006a, p. 74).
Nas experiências de escolha retardada, o fóton se compromete a se transformar em partícula antes mesmo de chegar ao detector. (Goswami, 2005, p. 56-58).
Nas experiências de escolha retardada, pode ser colocado apenas um detector ligado, que fica longe do divisor de feixes luminosos. O fóton pode seguir pelo caminho em que não se encontra o detector e, mesmo assim, o colapso acontece. (Greene, 2005, p. 222, 223).
Há experiências de escolha retardada, com psicocinésia, em que o próprio detector, o computador e o material impresso ficam em superposição quântica e só assumem um estado após a ação de um paranormal e a observação dos impressos. (Goswami, 2006a, p. 110, 111).
Na experiência de Stern-Gerlach, há o experimento de resultado nulo, em que não há contato entre o átomo e o detector. Neste caso, é colocado apenas um detector, por exemplo, na trajetória para cima. Mesmo que o detector não dispare, há o colapso quântico, significando que o átomo tomou a trajetória para cima. (Betz, 2016).
Os elétrons não têm por que fazer distinção entre o detector e a placa fluorescente, ou qualquer outro objeto. (Goswami, 2010, p. 88).
No experimento das duas fendas, se o detector estiver ligado, mas colocado atrás de uma fenda apenas, haverá colapso quântico. (Robsville, 2013).
Em nenhum momento o elétron é tocado fisicamente por qualquer coisa. (Greene, 2005, p. 124).
A onda do fóton emitido pelo detector também se torna emaranhada com a onda do fóton. (Goswami, 2007, p. 115).
É a nossa intenção em colocar o detector para medir o resultado, e depois olhar o resultado, que causa o colapso e não o detector em si. (Goswami, 2007, p. 64, 93).
A explicação pelo detector tem os mesmos problemas da teoria da decoerência, que veremos mais adiante.
A ideia de que o próprio elétron causa seu colapso quântico
Objeção: O elétron ou um átomo pode causar seu próprio colapso quântico.
Respostas:
Se isto fosse verdade, no experimento da dupla fenda não haveria efeito de interferência na placa fluorescente. (Goswami, 2006a, p. 74).
Também não seriam possíveis superposições quânticas em objetos macroscópicos. (Goswami, 2006b, p. 55).
Também não seria possível a correlação não local entre duas partículas distantes. (Goswami, 2005, p. 47-49).
A Teoria da Decoerência
Objeção: A Teoria da Decoerência explica o colapso quântico.
Resposta:
A decoerência não explica a escolha da superposição quântica que se torna manifesta. (Wallace, 2007, p. 19).
Se o ambiente pudesse destruir as superposições quânticas do universo, o cosmos teria atingido qualquer forma ao acaso, pois o ambiente não tem inteligência consciente para fazer uma determinada escolha.
A decoerência não explica o colapso das probabilidades do Universo em sua origem. (Goswami, 2005, p. 58).
Como poderia haver decoerência quando o Universo estava em estado de superposição quântica? Não havia nenhum ambiente sólido para registrá-lo, pois o próprio ambiente só se materializou após o colapso quântico.
A decoerência não explica o colapso das superposições do Universo em seu estado atual. (Goswami, 2007, p. 170-172).
Se o ambiente é quem atualiza todas as superposições, o que provoca o colapso das ondas do Universo como um todo, já que não há um ambiente externo a ele?
A decoerência não explica a evolução biológica. (Goswami, 2009, p. 115-118, 166, 167, 176).
A evolução biológica exigiu a ação da mente sobre as probabilidades quânticas do DNA e das proteínas. A decoerência não explica as qualidades maravilhosas da vida, seu ordenamento e sua tendência de evoluir do simples para o complexo.
A decoerência não explica a funcionamento do cérebro. (Goswami, 2006a, p. 85, 122).
Nosso cérebro é controlado pela nossa mente e não pela decoerência. Do contrário não haveria consciência e livre-arbítrio. Se a decoerência fosse verdadeira, o cérebro seria totalmente clássico e não exibiria coerência quântica.
A decoerência não explica a psicocinésia. (Goswami, 2005, p. 59-61).
A matéria macroscópica não é totalmente clássica antes de uma observação, pois o paranormal realiza colapsos quânticos sobre dados de jogo em movimento.
A decoerência não explica a experiência da escolha retardada. Nessa experiência, a onda de possibilidade do fóton reage a uma decisão nossa antes que ela seja tomada. (Goswami, 2006a, p. 110, 111).
A decoerência não explica o efeito Zenão Quântico. Se ficarmos observando continuamente um núcleo radioativo, ele nunca vai sofrer o decaimento. (Pessoa Jr., 2013).
A decoerência não explica o experimento de resultado nulo nas experiências de Stern-Gerlach, que já vimos anteriormente. A simples presença do detector ligado desfaz a superposição, mesmo que o átomo não passe pelo detector. (Betz, 2016).
Nas experiências de escolha retardada, pode ser colocado apenas um detector ligado, que fica longe do divisor de feixes luminosos. O fóton pode seguir pelo caminho em que não se encontra o detector e, mesmo assim, o colapso acontece. (Greene, 2005, 222, 223).
No experimento das duas fendas, se o detector estiver ligado, mas colocado atrás de uma fenda apenas, haverá colapso quântico. (Robsville, 2013).
A decoerência não explica o fato de a placa fluorescente não desfazer o padrão de interferência. (Goswami, 2006a, p. 74, 75).
O entrelaçamento da função de onda dos objetos macroscópicos com a função de onda total do ambiente deixa o espalhamento das ondas muito lento (depois da medição quântica), mas não inexistente. Isto é confundido com a decoerência. (Goswami, 2010, p. 86, 87).
Objeções relacionadas ao experimento do Gato de Schrödinger
Objeção: No experimento imaginário do Gato de Schrödinger é o detector que causa o colapso quântico.
Respostas:
A consciência do próprio gato poderia causar seu colapso quântico. (Goswami, 2010, p. 88).
Há experiências de escolha retardada, com psicocinésia, em que o próprio detector, o computador e o material impresso ficam em superposição quântica e só assumem um estado após a ação de um paranormal e a observação dos impressos. (Goswami, 2006a, p. 110, 111).
Como o contador Geiger amplifica o sinal do átomo, o contador também entra em superposição. (Goswami, 2006a, p. 85).
Se no lugar do gato fosse colocada uma máquina registradora, esta também entraria em superposição quântica. (Goswami, 2007, p. 120, 121).
O ambiente apenas camufla a função quântica, mas não causa o colapso quântico. (Goswami, 2010, p. 86, 87).
A Teoria dos Muitos Mundos
Objeção: A Teoria dos Muitos Mundos explica o fenômeno quântico.
No caso do experimento imaginário do Gato de Schrödinger, a teoria dos muitos mundos afirma que o gato estaria vivo em um universo paralelo e morto em outro.
Respostas:
A teoria dos muitos mundos é extravagante e nada econômica, pois um número incrivelmente alto de universos seria necessário para envolver a totalidade das escolhas. (Goswami, 2007, p. 170, 171).
A teoria não é econômica também porque o universo tem que duplicar toda a sua massa e energia a cada vez que ocorre uma medição quântica. (Goswami, 2007, p. 105, 106).
No experimento da dupla fenda, a teoria não explica por que o universo se bifurca na placa fluorescente e não nos detectores das fendas. (Goswami, 2010, p. 88).
Como os universos paralelos manifestados não se comunicam entre si, a teoria não pode ser testada. (Goswami, 2007, p. 106).
Essa teoria reconhece existência das superposições macroscópicas, o que beneficia a idéia do colapso quântico pela consciência.
As teorias da onda piloto e das variáveis ocultas
Objeção: Não há colapso quântico. O elétron é guiado por uma onda piloto ou pelas variáveis ocultas.
De acordo com David Bohm, no experimento da fenda dupla o elétron passa por apenas uma das fendas enquanto a onda passa pelas duas, produzindo a interferência. O contato com o detector faz a onda também passar por apenas uma fenda.
Respostas:
A teoria da onda piloto de De Broglie ou a das variáveis ocultas de David Bohm trazem de volta o determinismo e destroem o livre-arbítrio. (Goswami, 2007, p. 155).
O experimento da escolha retardada mostra que o observador tem uma escolha em fazer com que o fóton se manifeste como onda ou como partícula. (Goswami, 2005, p. 56-58).
Há o experimento de resultado nulo em que não há contato entre o elétron e o detector, como vimos anteriormente. (Betz, 2016).
A hipótese de Bohm não explica por que o padrão de interferência desaparece ao ligarmos o detector. Que poder o detector teria sobre as ondas? (Wikipédia, 2013).
No experimento das duas fendas, se o detector estiver ligado, mas colocado atrás de uma fenda apenas, haverá colapso quântico. (Robsville, 2013).
Essa hipótese separa elétrons e ondas, mas o elétron possui uma dualidade onda-partícula. (Goswami, 2007, p. 64).
Apenas a onda passando sozinha pelas duas fendas, sem o elétron, não produziria o efeito de interferência. O elétron, em superposição, precisa interferir consigo mesmo. (Goswami, 2007, p. 88-93).
A hipótese de David Bohm traz os mesmos problemas da teoria da decoerência.
Referências
Goswami, Amit. A janela visionária: um guia para a iluminação por um físico quântico. Tradução: Paulo Salles. São Paulo: Cultrix, 2006a.
Site: Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Betz, Michel. A Experiência de Stern-Gerlach (Acesso em 2016).
http://www.if.ufrgs.br/~betz/quantum/SGtexto.htm
Goswami, Amit. A Física da Alma. Tradução Marcello Borges – São Paulo: Aleph, 2005.
Site: Kwelos Tripod. Robsville, Sean. Buddhism and Quantum Physics (Acesso em 2013).
http://kwelos.tripod.com/quantumphenomena.htm
Goswami, Amit. O Universo Autoconsciente: como a consciência cria o mundo material. Tradução: Ruy Jungmann. – São Paulo: Aleph, 2007.
Site: Wikipedia. EPR Paradox (Acesso em 2013).
http://en.wikipedia.org/wiki/EPR_paradox
Site: Internet Archive Waybackmachine. EPR Paradox (Acesso em 2023).
https://web.archive.org/web/20130320000522/http://en.wikipedia.org/wiki/EPR_paradox
Greene, Brian. O Tecido do Cosmo: o espaço, o tempo e a textura da realidade. Tradução: José Viegas Filho. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
Goswami, Amit. O ativista quântico: princípios da física quântica para mudar o mundo e a nós mesmos. Tradução: Marcello Borges. São Paulo: Aleph, 2010.
Goswami, Amit. O médico quântico: orientações de um físico para a saúde e a cura. Tradução: Euclides Luiz Calloni, Cleusa Margô Wosgrau. São Paulo, Cultrix, 2006b.
Wallace, B. Alan. Hidden Dimensions: The Unification of Physics and Consciousness. New York: Columbia University Press, 2007.
Goswami, Amit. A evolução criativa das espécies: uma resposta da nova ciência para as limitações da teoria de Darwin. Tradução: Marcello Borges. São Paulo: Aleph, 2009.
Site: Vya Estelar. Pessoa Jr., Osvaldo. Entenda o efeito Zenão quântico (Acesso em 2013).
http://www2.uol.com.br/vyaestelar/fisicaquantica_zenao_quantico.htm
Site: Internet Archive Waybackmachine. Pessoa Jr., Osvaldo. Entenda o efeito Zenão quântico (Acesso em 2023).
https://web.archive.org/web/20130817023720/http://www2.uol.com.br/vyaestelar/fisicaquantica_zenao_quantico.htm