por Herley Leite de Paula e Silva
Introdução
Um dos assuntos que mais intrigam o ser humano é a existência do mal e do sofrimento. Por que existe o mal no universo? Se existe um domínio transcendente e uma consciência coletiva não-local, dotada de potencialidades do bem, qual é a explicação para o sofrimento? É o que vamos analisar agora.
As explicações de Allan Kardec
Diz Kardec sobre a necessidade do sofrimento:
Como o homem deve progredir, os males aos quais está exposto são um estimulante para o exercício da sua inteligência, de todas as suas faculdades físicas e morais, incitando-o à busca dos meios de livrar-se deles. Se nada tivesse a temer, nenhuma necessidade o levaria a procurar coisa melhor; seu espírito se embotaria na inatividade. Ele nada inventaria e nada descobriria. A dor é o aguilhão que impede o homem para a frente, na senda do progresso. (Kardec, 1985, p. 78).
Segundo Kardec, então, o sofrimento é um exercício que desenvolve a inteligência, a curiosidade e leva ao progresso da humanidade. Neste caso, as pessoas se desenvolveriam devido às necessidades impostas pela vida.
As explicações de Amit Goswami
Diz Goswami sobre a existência do mal:
O que nos parece um mal pode ser necessário, em última análise, para que nos abalemos e saiamos da ignorância, passando a percorrer o caminho que leva ao crescimento. Às vezes, a menos que soframos, não vamos conseguir dar um salto quântico rumo a uma realidade melhor. Do mesmo modo, uma doença terrível pode ser a oportunidade para vivenciarmos a cura quântica – para darmos um salto quântico no pensamento emocional, curando-nos graças à correção de um processamento errôneo do significado (dos sentimentos) e reativando o sistema imunológico até a plena saúde. Se estivermos prontos, o mesmo salto quântico pode ser um salto que leva à iluminação (Goswami, 2018, p. 77).
Goswami diz que o mal é uma necessidade que nos leva a buscar o conhecimento e o progresso espiritual. Um exemplo seriam as doenças, que nos levam a reavaliar nossas emoções e sentimentos.
As explicações de Gustave Geley
Diz Geley sobre o mal:
O mal é a condição propícia à evolução.
Com efeito, é o mal que impõe o esforço e o trabalho nas fases inferiores da evolução. Impede o ser de permanecer imóvel na sua situação presente, constrangendo-o a aspirar e a chegar mais rápido à felicidade futura.
Enfim, o mal confere-lhe o mérito de, aos poucos, adquirir, por seus esforços próprios, essa felicidade futura, cujo gozo, conquistado e compreendido, será a correta compensação dos sofrimentos suportados.
Como cada progresso adquirido diminui o mal e aumenta a consciência, a liberdade e a capacidade emotiva do ser, a felicidade futura – cuja essência ele não pode suficientemente compreender, devido à sua atual inferioridade – será o resultado natural do desenvolvimento psíquico coincidente com a diminuição do mal.
Como a evolução é sempre progressiva, todos os seres, sem exceção, escaparão do mal; todos alcançarão a felicidade; mas, lá chegarão mais ou menos rápido, na medida em que mais ou menos se conformem às leis evolutivas, mais adiante abordadas.
Finalmente, o mal é a sanção dos atos individuais.
Com efeito, somos sempre o que de nós mesmos fizemos, por nossos próprios esforços nas existências sucessivas, preparando inconscientemente, em cada encarnação, a seguinte; gozando atualmente os progressos anteriormente adquiridos; utilizando as faculdades que soubemos desenvolver; sofrendo também as más disposições que permitimos que em nós se estabelecessem (Geley, 1998, p. 204, 205).
Gelei diz que o mal leva à evolução porque cria necessidades para o ser humano. Com a evolução, aumentam o conhecimento e a felicidade das pessoas e o mal diminui. E, finalmente, ele diz que o mal é consequência dos nossos atos praticados em outras encarnações. E essas consequências se dão na forma de ignorância, sofrimento psíquico e más tendências.
É importante salientar, de acordo com a visão exposta neste artigo, que a consequência do mal praticado em outras vidas não é um castigo imposto por algum tribunal, mas um imperativo da própria consciência do indivíduo e da lei de causa e efeito. Além disso, as consequências cármicas de uma vida para outra não se dão em termos de riqueza, pobreza ou de condições físicas.
Referências
Geley, Gustave. O Ser Subconsciente: Ensaio de Síntese Explicativa dos Fenômenos Obscuros de Psicologia Normal e Anormal. Tradução: Gilberto Campista Guarinol. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1998.
Kardec, Allan. A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo. Tradução: Sylvia Mele Pereira da Silva. Apresentação de J. Herculano Pires. São Paulo, EDICEL, 1985.
Goswami, Amit. Consciência Quântica: uma nova visão sobre o amor, a morte e o sentido da vida. Tradução: Marcello Borges. São Paulo: Aleph, 2018.