por Herley Leite de Paula e Silva
Introdução
Este assunto já foi tratado em Paula e Silva (2024, p. 55), no meu primeiro livro. Porém, agora vou enfatizar mais as fases iniciais da vida após a morte. Para isso vou me concentrar nos estudos do metapsiquista italiano Ernesto Bozzano.
Os temas que vamos tratar são: A forma humana e o corpo sutil, a ignorância acerca da própria morte, a recapitulação do passado, os encontros com espíritos de familiares, o sono reparador, o meio espiritual, a força criadora do pensamento, a telepatia como forma de comunicação, a clarividência sobre os objetos, a locomoção dos espíritos e a lei de afinidade.
Aqui, eu vou tomar as informações dadas por Bozzano, de acordo com as revelações dos espíritos, mas vou oferecer a minha interpretação sobre o assunto.
A forma humana e o corpo sutil
Diz Bozzano sobre o que os espíritos afirmam acerca do corpo sutil:
“1º) Todos afirmam se terem encontrado novamente com a forma humana, nessa existência”; (Bozzano, 1996, p. 165).
Os espíritos se encontram na forma humana porque possui um corpo mental, de natureza sutil, e formado pela projeção de potencialidades mentais. Esse corpo mental guarda nossa memória da vida física anterior e reproduz a forma do nosso antigo corpo físico.
A ignorância acerca da própria morte
Diz Bozzano sobre o não conhecimento das almas sobre a própria morte:
“2º) Terem ignorado, durante algum tempo, que estavam mortos”; (Bozzano, 1996, p. 165).
O espírito fica submetido a um período de perturbação psicológica após a morte do corpo físico. Isto se deve, em parte, ao choque psíquico provocado pela morte física e à mudança de identificação do organismo biológico para o corpo mental. Por isso, ele não percebe, por um tempo, que já fez a transição para outra realidade.
A recapitulação do passado
Diz Bozzano sobre a recapitulação do passado:
“3º) Haverem passado, no curso da crise pré-agônica, ou pouco depois, pela prova da reminiscência sintética de todos os acontecimentos de existência que se lhes acabava (“visão panorâmica”, ou “epílogo da morte”)”; (Bozzano, 1996, p. 165).
Na fase inicial da vida após a morte, o espírito passa pela visão panorâmica da última vida, que também pode ser chamada de recapitulação do passado. Durante esse processo, a alma se lembra de toda a sua vida física, porque está num estado de consciência não-dual, com reduzida separação sujeito-objeto. Nesse momento, o espírito pode experimentar a conexão não-local com o passado.
Os encontros com espíritos de familiares
Diz Bozzano sobre os encontros dos espíritos com os familiares:
“4º) Terem sido acolhidos no mundo espiritual pelos Espíritos das pessoas de suas famílias e de seus amigos mortos”; (Bozzano, 1996, p. 165).
Essa é uma informação importante. Os espíritos dos familiares da última vida física aguardam a alma em sua chegada ao mundo espiritual. Esse apoio familiar é necessário para a adaptação do espírito ao novo mundo.
O sono reparador
Diz Bozzano sobre o sono reparador experimentado pelos espíritos:
“5º) Haverem passado, quase todos, por uma fase mais ou menos longa de “sono reparador””; (Bozzano, 1996, p. 165).
O sono reparador pode ocorrer após a recapitulação do passado e o encontro com os antigos familiares, ou até mesmo a recapitulação da vida anterior pode continuar nessa fase. Nesse processo, o espírito fica em um estado inconsciente, com pouco exercício da mente discriminativa. É um período de renovação psíquica para a alma.
O meio espiritual radioso e o meio tenebroso
Diz Bozzano sobre a natureza do meio espiritual:
“6º) Terem-se achado num meio espiritual radioso e maravilhoso (no caso de mortos moralmente normais), e num meio tenebroso e opressivo (no caso de mortos moralmente depravados)”; (Bozzano, 1996, p. 165).
O meio espiritual é um ambiente que combina a vida interior e a vida exterior dos espíritos. Eles, então, são capazes de projetar uma realidade exterior feita da mesma substância do corpo mental. É um mundo formado pelas projeções das potencialidades mentais da alma. E, segundo Bozzano, aquelas almas com desenvolvimento espiritual mediano permanecem em um meio agradável e luminoso, enquanto os espíritos moralmente problemáticos ficam em um meio trevoso e desagradável. É claro que esse meio desagradável em nada se parece com o inferno da maioria das religiões, pois no mundo espiritual os sofrimentos são psicológicos e não físicos.
Um novo mundo objetivo e substancial
Diz Bozzano sobre a substância do meio espiritual:
“7º) Terem reconhecido que o meio espiritual era um novo mundo objetivo, substancial, real, análogo ao meio terrestre espiritualizado”; (Bozzano, 1996, p. 165).
O mundo espiritual parece tão real quanto o meio terrestre da vida física, porém sem os inconvenientes da existência terrestre, como a morte, a doença e a dor física. Esse meio é substancial porque deriva das potencialidades mentais, assim como o mundo físico deriva das possibilidades quânticas físicas. A substancialidade é uma ilusão, assim como a solidez da matéria física. Além disso, o mundo espiritual simula o ambiente anterior da vida física, de modo a facilitar a adaptação dos espíritos à nova realidade.
A força criadora do pensamento
Diz Bozzano sobre a criatividade dos espíritos no mundo espiritual:
8º) Haverem aprendido que isso era devido ao fato de que, no mundo espiritual, a pensamento constitui uma força criadora, por meio da qual todo Espírito existente no “plano astral” pode reproduzir em torno de si o meio de suas recordações; (Bozzano, 1996, p. 165, 166).
O mundo espiritual tem um aspecto exterior e substancial, que simula o mundo físico, porque a consciência exerce uma escolha entre as potencialidades do corpo mental e do inconsciente coletivo. E isto é semelhante ao que a consciência realiza no mundo físico. Na vida terrestre, o ser consciente faz uma escolha entre as possibilidades quânticas da matéria, criando, assim, a “realidade”.
A telepatia como forma de comunicação
Diz Bozzano sobre a comunicação no mundo espiritual:
“9º) Não terem tardado a saber que a transmissão do pensamento é a forma da linguagem espiritual, se bem certas Espíritos recém-chegados se iludam e julguem conversar por meio da palavra”; (Bozzano, 1996, p. 166).
No mundo espiritual, os espíritos se comunicam através da telepatia, que é uma forma de comunicação não-local, que não depende de ondas físicas. Não é, então, necessário produzir qualquer som físico. É como conversar em um sonho. Os espíritos percebem os pensamentos uns dos outros, porque estão psiquicamente interconectados.
A clarividência sobre os objetos
Diz Bozzano sobre a clarividência:
“10º) Terem verificado que, graças à faculdade da visão espiritual, se achavam em estada de perceber os objetos de um lado e outro, pelo seu interior e através deles”; (Bozzano, 1996, p. 166).
Os espíritos exercem a clarividência no mundo espiritual. No mundo físico ela também ocorre porque é uma faculdade da consciência. Trata-se da capacidade de visualizar objetos ausentes ou encerrados em caixas fechadas. Como no mundo espiritual a distinção sujeito-objeto é mais reduzida, as almas têm maior conexão psicológica com o meio ao seu redor e ela não se sente separada dos objetos. É claro que aqui não se trata de objetos físicos, mas de projeções derivadas das potencialidades mentais.
A locomoção dos espíritos
Diz Bozzano sobre o movimento dos espíritos:
11º) Haverem comprovado que os Espíritos se podem transferir temporariamente de um lugar para outra, ainda que muita distante, por efeito apenas de um ato da vontade, o que não impede também possam passear no meio espiritual, ou voejar a alguma distância do solo; (Bozzano, 1996, p. 166).
Como se trata de um meio formado por projeções sutis de potencialidades, no mundo espiritual as almas não ficam sujeitas às mesmas restrições que sofriam no mundo físico, como as do espaço e do tempo. As projeções sutis facilitam a não-localidade da consciência e permite que os seres conscientes se locomovam sem as limitações do espaço.
A lei de afinidade
Diz Bozzano sobre a lei de afinidade:
“12º) Terem aprendido que os Espíritos dos mortos gravitam fatalmente e automaticamente para a esfera espiritual que lhes convém, por virtude da “lei de afinidade”. (Bozzano, 1996, p. 166).
Os espíritos não ficam todos misturados no domínio transcendente, mas ficam distribuídos através de esferas espirituais. As esferas são planos de existência e também estados de consciência. Aquelas almas que vivem em um plano, não enxergam as outras que estão em outra esfera. Isto ocorre porque a capacidade dos espíritos de se verem depende da interconexão entre eles. Aqueles que vivem em uma determinada esfera são almas interconectadas e destinadas àquele plano de existência. Geralmente são espíritos semelhantes e que se conheciam em vida.
É a lei de afinidade que distribui os espíritos de acordo com as esferas. É uma lei da consciência coletiva, sem necessidade de qualquer tribunal.
Referências
Bozzano, Ernesto. A Crise da Morte. Tradução: Guillon Ribeiro. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1996.
Paula e Silva, Herley Leite. O Místico Idealista. Não publicado. Curitiba, 2024.