por Herley Leite de Paula e Silva
Introdução
Antes da leitura deste texto, para uma melhor compreensão do assunto, recomendo que o leitor examine o artigo "As Bases Científicas da Consciência - A Física Quântica", aqui mesmo neste blog.
Após um experimento de medição quântica, ou colapso quântico, as ondas de possibilidades de objetos macroscópicos se tornam muito lentas. (Goswami, 2006a, p. 178).
Porém, antes que o detector emita um clique, ele está na possibilidade de apontar para um valor ou outro de acordo com o caminho que o elétron vai tomar.
É por isto que alguns cientistas acreditam na decoerência ou na ideia de que os instrumentos de detecção ou o ambiente externo desfazem a superposição quântica (Goswami, 2010, p. 86, 87).
Discussão sobre a Teoria da Decoerência
A teoria da decoerência afirma que os instrumentos de detecção ou o ambiente externo substituem o colapso quântico. Como o ambiente poderia escolher as superposições que se tornam materializadas?
É necessário que haja uma escolha porque só vemos uma das possibilidades. O ambiente não faz a escolha e não realiza o colapso quântico. Quem realiza o colapso quântico é o sujeito manifestado (Goswami, 2007, p. 66 e Goswami, 2006b, p. 53).
Porém, após a observação realizada pela consciência, o ambiente apenas torna as ondas muito mais lentas e mantém uma memória permanente dos últimos colapsos feitos.
A decoerência é uma teoria equivocada. Tanto os detectores quanto o meio ambiente em geral funcionam como instrumentos de gravação, mas eles também são quânticos e estão entrelaçados com a onda de possibilidade do elétron. Após a medição do elétron, a superposição na matéria densa (macroscópica) do detector se torna quase imperceptível.
Acredito que a superposição é lenta em objetos estáticos, ou objetos registradores que já assumiram um resultado. No caso de objetos que estão em movimento ou passando por um processo quântico dinâmico, a onda de possibilidade não é lenta. Isto pode ser verificado nos experimentos de escolha retardada com psicocinésia, nos quais se pode mudar o passado de eventos já registrados (Goswami, 2005, p. 59-61).
Se a onda de possibilidade de objetos macroscópicos sempre fosse lentíssima, o próprio universo não poderia estar em superposição quântica. No entanto, ele esteve em superposição quântica até o surgimento da possibilidade da vida.
Na experiência da dupla fenda, o colapso quântico ocorre quando ligamos o detector e ouvimo-lo dar um clique. É a nossa intenção em conhecer o resultado, o ato de ligar o dispositivo, a nossa audição e visão que causam a desintegração da superposição quântica. Nesse momento realizamos o colapso das ondas de possibilidade do elétron, do detector e do nosso cérebro. (Goswami, 2006a, p. 72).
Nos experimentos de escolha retardada, com desintegração radioativa, o resultado pode ser alterado (por um paranormal, por exemplo) enquanto não olhamos o resultado no detector. O ato de olhar pode precipitar a causação desde o passado. Teoricamente a consciência poderia agir sobre o passado e mudar o que está registrado no detector (Goswami, 2006b, p. 110, 111).
Sem o detector não há colapso quântico, mas não é ele que realiza o colapso, o que pode ser percebido na experiência da escolha retardada. Antes da nossa observação, o detector também está em superposição quântica. A função do detector é amplificar a onda da partícula para que possamos vê-la.
A mera presença do detector não é suficiente para causar o colapso quântico, pois se ele estiver presente em apenas um dos dois caminhos, e não registrar o fóton, o colapso ainda acontece, pois o fóton pode ter tomado o outro caminho. (Greene, 2005, p. 222). E em nenhum momento há contato físico do detector com o elétron (Greene, 2005, p. 123, 124).
Após ser realizado o colapso quântico, o espalhamento das ondas de possibilidades dos objetos macroscópicos se torna lento devido ao condicionamento. As ondas de tornam condicionadas pela probabilidade. Neste caso, se forma um mundo aparentemente clássico. (Goswami, 2007, p. 227; Goswami, 2006b, p. 69, 98, 99, 111, 112 e 153).
Evidências contrárias à tese da decoerência
O experimento de resultado nulo na experiência de Stern-Gerlach
Diz Betz:
Na verdade, nem precisamos de dois detectores para operar a redução completa do estado quântico. Se colocarmos um detector, por exemplo sobre a trajetória de deflexão para baixo, então se a passagem de um átomo pelo aparelho não provocar o disparo do detector, poderemos concluir que o átomo não terá sido defletido para baixo, e portanto terá sido defletido para cima. Em posse desta informação, poderemos afirmar que o átomo possui spin para cima e passaremos a descrevê-lo pelo estado |+). Neste caso, o estado do átomo será reduzido sem nenhuma interação aparente entre o átomo e o detector!
Após a discussão acima, fica claro que a redução do estado quântico deve ser concebida como um processo lógico ligado à aquisição de informação nova, e não como um processo estritamente físico. (Betz, 2016).
A experiência da escolha retardada
De acordo com Goswami (2005, p. 57, 58), na experiência de escolha retardada, a onda de possibilidade do fóton reage a uma decisão nossa antes que ela seja tomada. Assim, colocamos espelhos para provocar a superposição de ondas. Após a passagem do fóton pelas duas aberturas e depois de seu comprometimento em viajar pelos dois caminhos ao mesmo tempo, retiramos o espelho e ligamos o detector. Mesmo assim, o fóton viajará como partícula como se tivesse previsto nossa decisão.
A psicocinésia na experiência da escolha retardada
Segundo Goswami (2005, p. 59-61), o parapsicólogo Helmut Schmidt utilizou um gerador de números aleatórios movido por desintegração radioativa. Os agentes psicocinéticos deveriam influenciar o decaimento radioativo que por sua vez influenciaria o detector.
Porém, os agentes deveriam atuar sobre as partículas no passado. Assim, houve o decaimento radioativo, o gerador emitiu os elétrons e os resultados foram registrados no computador, impressos no papel, colocados em envelopes e enviados a observadores independentes, antes que os paranormais pudessem agir.
Meses depois os paranormais foram solicitados a influenciar os números aleatórios cujos resultados já estavam impressos e fechados em envelopes. E o experimento funcionou. Os agentes puderam influenciar os números aleatórios no passado. Até mesmo os registros no computador e no papel foram retroativamente modificados, pois eram possibilidades.
Este experimento provou dois fatos: Primeiro, a consciência pode agir na emissão de partículas e não apenas se conformar à probabilidade. Ela pode guiar as partículas e não apenas escolher entre partícula e onda como no experimento da dupla fenda. Segundo, os objetos macroscópicos também manifestam superposição quântica e são afetados pela consciência.
Também é importante enfatizar que os observadores independentes não podiam abrir os envelopes antes de os paranormais agirem sobre os dados impressos meses atrás. Se os envelopes fossem abertos, os agentes psicocinéticos não conseguiriam agir (Goswami, 2005, p. 60).
A ação dos paranormais criou um potencial sobre os dados. E há diferença entre possibilidades e potencial. Mas a medição só foi completada quando os observadores independentes abriram o envelope e constataram o sucesso dos agentes psicocinéticos.
Diz Goswami:
Será mesmo verdade que as superposições de possibilidades quânticas ficam à espera, não desintegradas, até que a consciência se disponha a causar o colapso delas em ato? Nos experimentos conduzidos pelo parapsicólogo Helmut Schmidt, alguns eventos de decaimento radioativo, que são aleatórios, são registrados por contadores e computadores e depois impressos. Ninguém vê os resultados no computador, nem os impressos, que são lacrados. Depois de alguns meses, um observador independente que possui os impressos lacrados escolhe, pra o desvio da aleatoriedade, a direção que ele, ou ela, deseja ver. Então, alguns médiuns, os primeiros a ver realmente os resultados no computador, tentam influenciar psicocineticamente a aleatoriedade do decaimento radioativo na direção especificada. Eles conseguem – mesmo que tenham se passado meses desde o decaimento original. Os experimentos de controle revelam que, quando um observador faz um exame completo dos impressos de antemão, os dados não podem ser influenciados por nenhum artifício mediúnico. A conclusão é simples, direta e espantosa: os eventos quânticos permanecem na possibilidade até que a consciência os observe e os converta em ato (Goswami, 2006b, p. 110 e 111).
O efeito Zenão Quântico
É isso que acontece no efeito Zenão quântico. Um exemplo seria um núcleo radioativo. Se após uma hora medíssemos quantos átomos decaíram em uma amostra, suponha que 50% deles o tenham feito. Porém, se medíssemos a cada minuto, no final (após uma hora) menos de 1% teria decaído! E no limite, se observássemos continuamente o núcleo radioativo, ele nunca decairia! (Pessoa Jr., 2013).
Esta experiência tem certa semelhança com o experimento do Gato de Schrödinger.
A origem do Universo
Como poderia haver decoerência quando o Universo estava em estado de superposição quântica? Não havia nenhum ambiente sólido para registrá-lo, pois o próprio ambiente só se materializou após o colapso quântico. Só a consciência poderia explicar o colapso quântico do Universo (Goswami, 2005, p. 58).
O próprio universo atual é uma onda de possibilidade
Se o ambiente é quem atualiza todas as superposições, o que provoca o colapso das ondas do Universo como um todo, já que não há um ambiente externo a ele?
A escolha das superposições que colapsam
Como o ambiente poderia escolher as superposições que se tornam materializadas? É necessário que haja uma escolha porque só vemos uma das possibilidades.
O ambiente não faz a escolha e não realiza o colapso quântico, mas ele apenas torna as ondas muito mais lentas, depois que a medição é feita, e mantém uma memória permanente dos últimos colapsos feitos.
De acordo com Wallace (2007, p. 19) os físicos que formularam a teoria da decoerência precisariam explicar o mecanismo de seleção de um resultado particular. E essa explicação precisa incluir a mente do observador.
Esse mesmo questionamento também foi formulado por Greene (2005, p. 251).
Quanto ao colapso quântico do Universo é a escolha da primeira célula viva que o provoca. Quando surgiu a possibilidade da primeira célula viva, consciência se correlacionou com ela, e o Universo sofreu um colapso quântico retroativo.
Não é o ambiente que causa a destruição das superposições quânticas, e sim nossa decisão de existir no ambiente. O meio externo serviu como um instrumento de detecção ou gravação.
Se o ambiente pudesse destruir as superposições quânticas do universo, o cosmos teria atingido qualquer forma ao acaso, pois o ambiente não tem inteligência consciente para fazer uma determinada escolha. E se o universo tivesse se desenvolvido ao acaso não teriam surgido as condições necessárias para o início da vida.
A evolução biológica
A evolução biológica exigiu a ação da mente sobre as probabilidades quânticas do DNA e das proteínas. A decoerência não explica as qualidades maravilhosas da vida, seu ordenamento e sua tendência de evoluir do simples para o complexo.
E também a ação da mente sobre componentes macroscópicos como proteínas e ácidos nucleicos mostra que objetos grandes também exibem coerência quântica e são influenciados pela consciência.
A Teoria Gaia
A temperatura da Terra se manteve estável nos últimos bilhões de anos embora o sol tenha variado muito sua temperatura. Isto mostra que a biosfera do planeta tem mantido o equilíbrio térmico através da sincronicidade (ou correlação quântica). A consciência coletiva dos seres vivos é capaz de realizar colapsos quânticos na parte não viva do planeta (rochas, solo, água, lava e outros). (Goswami, 2009, p. 160, 175, 183, 184).
O funcionamento do cérebro
Nosso cérebro é controlado pela nossa mente e não pela decoerência. Do contrário não haveria consciência e livre-arbítrio. Se a decoerência fosse verdadeira, o cérebro seria totalmente clássico e não exibiria coerência quântica. Mas ele exibe superposição quântica e, por isto, a mente pode agir sobre ele.
Outra prova de que o cérebro não é clássico e sim quântico, embora macroscópico, foi dada pelo experimento de Jacobo Grinberg-Zylberbaum, neurofisiologista da Universidade do México (Goswami, 2005, p. 49-53).
Nessa experiência dois sujeitos em meditação ficaram correlacionados quanticamente e um dos sujeitos, ao ver lampejos luminosos, realizou o colapso quântico em seu cérebro e no cérebro de seu companheiro de meditação ao mesmo tempo.
A psicocinésia
A ação da mente sobre a matéria, ou psicocinésia, não pode ser explicada pela decoerência. A psicocinésia também mostra que a matéria macroscópica não é totalmente clássica antes de uma observação, pois o paranormal realiza colapsos quânticos sobre dados de jogo em movimento.
Referências
Goswami, Amit. A Física da Alma; tradução Marcello Borges – São Paulo: Aleph, 2005.
Goswami, Amit. O Universo Autoconsciente: como a consciência cria o mundo material. Tradução: Ruy Jungmann. – São Paulo: Aleph, 2007.
Goswami, Amit. O médico quântico: orientações de um físico para a saúde e a cura. Tradução: Euclides Luiz Calloni; Cleusa Margô Wosgrau. São Paulo, Cultrix, 2006a.
Goswami, Amit. A janela visionária: um guia para a iluminação por um físico quântico. Tradução: Paulo Salles. São Paulo: Cultrix, 2006b.
Goswami, Amit. O ativista quântico: princípios da física quântica para mudar o mundo e a nós mesmos. Tradução: Marcello Borges. São Paulo: Aleph, 2010.
Goswami, Amit. A evolução criativa das espécies: uma resposta da nova ciência para as limitações da teoria de Darwin. Tradução: Marcello Borges. São Paulo: Aleph, 2009.
Greene, Brian. O Tecido do Cosmo: o espaço, o tempo e a textura da realidade. Tradução: José Viegas Filho. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
Wallace, B. Alan. Hidden Dimensions: The Unification of Physics and Consciousness. New York: Columbia University Press, 2007.
Betz, Michel. A Experiência de Stern-Gerlach. Site: Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. (Acesso em 2016).
http://www.if.ufrgs.br/~betz/quantum/SGtexto.htm
Pessoa Jr., Osvaldo. Entenda o efeito Zenão quântico. Site: Vya Estelar (Acesso em 2013).
http://www2.uol.com.br/vyaestelar/fisicaquantica_zenao_quantico.htm
Pessoa Jr., Osvaldo. Entenda o efeito Zenão quântico. Site: Internet Archive Waybackmachine (Acesso em 2023).
https://web.archive.org/web/20130817023720/http://www2.uol.com.br/vyaestelar/fisicaquantica_zenao_quantico.htm