quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

A Consciência e seus Corpos Sutis

por Herley Leite de Paula e Silva

Introdução

Este assunto já foi tratado em Paula e Silva (2024, p. 49-52). Pensei ser necessário retomar este assunto, porque é essencial para a compreensão da vida após a morte e para o contexto desta obra. Além disso, como tratei da psicologia analítica, da psicologia integral e da psicologia transpessoal, que também abordam níveis e corpos da mente, entendi ser indispensável apresentar minha visão da cartografia da consciência.

Este artigo trata dos níveis ou estados de consciência e dos corpos sutis. Esses conceitos precisam ser trabalhados juntos, pois eles são interconectados. Os níveis são as identificações que a consciência assume e os corpos sutis são as potencialidades e as funções do ser consciente.

Vamos analisar o ego, o inconsciente pessoal, o corpo vital, o corpo mental, o espírito superior, o inconsciente coletivo, o corpo espiritual e a consciência primordial.

O ego

O ego é a identificação que a consciência assume quando entra em correlação quântica não-local com as possibilidades materiais do organismo terrestre. Antes de se identificar com o ego, o aspecto individual da consciência está ligado ao self transpessoal, que veremos mais abaixo.

Em seu estado original, o ser está identificado com a consciência cósmica, que tem um aspecto coletivo e um individual. A seguir, a mente assume o estado ligado ao self transpessoal e depois ao ego.

No nível do ego, o espírito se sente um ser isolado dos objetos e dos outros sujeitos. Ele acredita ser uma entidade inerentemente separada das outras pessoas. Essa identificação tem um aspecto positivo, que é o ganho de experiência na vida terrestre. E tem também um aspecto negativo que é a eclosão de emoções negativas, como o egoísmo (Goswami, 2006b, p. 64, 65).

O inconsciente pessoal

O inconsciente pessoal está ligado ao ego. Ele é, ao mesmo tempo, um repositório de memórias e uma fonte de potencialidades. É também no inconsciente que fica todo o material reprimido pelo ego (Stein, 2006, p. 25, 26).

O inconsciente é a parte da psique onde não há separação sujeito-objeto e ocorrem fenômenos como os sonhos e o sono profundo.

Esse aspecto da psique pode também ser dividido em três seções. Uma mais profunda, ligada à memória, outra que está mais próxima do campo da consciência e uma terceira, ligada às potencialidades biológicas.

O corpo vital

Aqui chegamos a um dos corpos sutis. Os corpos vital, mental e espiritual são chamados de sutis porque são formados de substância mental, ao contrário do corpo biológico que é formado de matéria física. A substância mental é selecionada pela consciência dentre as potencialidades mentais. Esse elemento não é formado de átomos e partículas subatômicas, como a matéria conhecida, mas é simples ou indivisível.

Os corpos sutis são como softwares que guardam os programas que guiam o funcionamento da vida e das faculdades mentais. A consciência utiliza esses programas para facilitar sua atuação sobre a matéria e a mente. Assim, eles servem como projetos ou planos (Goswami, 2005, p. 117, 118).

O corpo vital guarda os projetos da vida, ou potencialidades vitais. Essas potencialidades também podem ser chamadas de campos morfogenéticos. Eles fornecem à mente ideias sobre como realizar progressos nos organismos biológicos. As funções vitais, como a reprodução e a nutrição, e também os instintos, são competências desse corpo sutil. E o corpo vital também conserva a memória das transformações biológicas realizadas no passado.

As informações do corpo vital são comunicadas ao ser que está encarnando através da correlação não-local com o inconsciente coletivo e da reencarnação. No mundo espiritual, após a morte, esse corpo permanece em estado potencial.

O corpo mental

O corpo mental é o outro corpo sutil. Ele está ligado ao ego, ao campo da consciência e ao inconsciente pessoal. Pode-se dizer que os conteúdos do campo da consciência pertencem ao corpo mental. Sua função é conservar os projetos para novas competências mentais, exercer as funções mentais já consolidadas e promover o funcionamento do cérebro. Enquanto o corpo vital cuida do organismo como um todo, o corpo mental está mais ligado ao órgão cerebral.

A diferença do corpo mental em relação ao inconsciente mental é que este último conserva memórias e impulsos reprimidos, enquanto o primeiro é responsável por todas as funções da mente, como pensamentos, sentimentos, emoções, juízos e outros. No entanto, esses dois aspectos da psique, embora distintos, não podem ser separados. Além disso, o corpo sutil também guarda as potencialidades mentais.

O corpo mental também possui uma projeção exterior que é utilizada como veículo do espírito no mundo espiritual, após a morte. Mesmo aqui na vida terrestre, ele participa de fenômenos paranormais como a experiência fora do corpo, a experiência de quase-morte, a clarividência, a mediunidade e outros.

O espírito superior ou self transpessoal

O self transpessoal, ou espírito superior, é uma identificação da consciência superior ao ego. Enquanto o ego se sente isolado das outras pessoas e dos outros objetos, o self transpessoal se sente interconectado com tudo e com todos. Nele não há separação sujeito-objeto. Seu estado de consciência é conhecido como savikalpa samadhi, em que se supera a dualidade, mas ainda é mantido um forte senso de identidade pessoal (Goswami, 2005, p. 175).

Enquanto o ego, identificado com o corpo mental, usufrui a vida terrestre e a vida nas primeiras esferas do mundo espiritual, o self transpessoal está identificado com um corpo espiritual e vive na dimensão dos arquétipos.

O self transpessoal se sente, ao mesmo tempo, universal e individual. Como ser individual, ele inspira o ego, e como ser universal, está ligado à consciência primordial.

O inconsciente coletivo

O inconsciente coletivo é uma dimensão profunda da psique e está ligada ao self transpessoal e ao corpo espiritual. É um nível que está além do ego, do inconsciente pessoal e dos corpos vital e mental.

O inconsciente possui uma seção que guarda a memória ancestral da espécie humana, mas possui outra seção mais universal, que conserva as potencialidades e os arquétipos da vida como um todo e também as potencialidades do universo.

Os arquétipos são potencialidades e padrões para as funções vitais, mentais e também para as leis que regem a matéria física.

O corpo espiritual

O corpo espiritual é o veículo do self transpessoal e está também ligado ao inconsciente coletivo. Porém, enquanto o inconsciente coletivo está mais ligado ao passado, o corpo espiritual guarda as funções psíquicas que são escolhidas pelo self.

Aqui é importante fazer uma distinção entre os níveis da consciência, como o ego, o espírito e o self transpessoal (ou espírito superior) e os corpos sutis como o vital, o mental e o espiritual. Os níveis são identificações do aspecto individual consciência e conservam a autoconsciência e o livre-arbítrio. Já os corpos sutis são conjuntos de funções psíquicas ou mentais. É importante distinguir entre consciência e mente. As funções mentais constituem processos, estando constantemente em fluxo, enquanto a consciência individual é uma realidade permanente.

O corpo espiritual é o veículo utilizado pelo espírito na dimensão dos arquétipos, que fica além das esferas do mundo espiritual. É a forma que ele usa para se apresentar aos outros espíritos superiores e também para se mostrar aos seres encarnados (Goswami, 2005, p. 174).

A consciência primordial

A consciência primordial era o estado original do espírito antes de sua identificação com a dimensão dos arquétipos. Nesse estado inicial, não havia separação sujeito-objeto. Depois o ser se identifica com o self transpessoal e, finalmente, como ego terrestre encarnado. Apesar de vivenciar o estado primordial, no nível da consciência cósmica o ser não possuía experiência, que só poderia ser adquirida com a distinção sujeito-objeto.

A consciência é coletiva e individual, ao mesmo tempo. O aspecto individual é chamado de self transpessoal e o aspecto coletivo é o self universal.

A consciência primordial também é a condição definitiva do ser após sua iluminação, quando ele terá desenvolvido todas as suas potencialidades ou arquétipos. Essa existência está além da dimensão dos arquétipos e é conhecida como nirvikalpa samadhi, quando o ser se identifica com o universo. Porém, mesmo com essa identificação suprema, o ser conserva a sua individualidade.


Referências

Goswami, Amit. A Física da Alma; tradução Marcello Borges – São Paulo: Aleph, 2005.

Goswami, Amit. A janela visionária: um guia para a iluminação por um físico quântico. Tradução: Paulo Salles. São Paulo: Cultrix, 2006b.

Paula e Silva, Herley Leite. O Místico Idealista. Não publicado. Curitiba, 2024.

Stein, Murray. Jung: O Mapa da Alma: Uma Introdução. Tradução: Álvaro Cabral. Revisão técnica: Marcia Tabone. São Paulo: Cultrix, 2006.