por Herley Leite de Paula e Silva
Introdução
Este assunto já foi estudado em Paula e Silva (2024, p. 80-86). Pensei ser necessário retomar este assunto porque ele é necessário para o contexto deste blog. Porém, desta vez vou abordá-lo de forma mais concisa.
O Moderno Espiritualismo surgiu em meados do século XIX, nos Estados Unidos. Depois disso se espalhou primeiramente nos demais países de língua inglesa. Alguns de seus postulados mais importantes são a convicção na vida após a morte e a possibilidade da comunicação com os espíritos das pessoas que já morreram.
Vamos estudar algumas evidências do Moderno Espiritualismo, como a xenoglossia, as manifestações de espíritos desconhecidos, as revelações transcendentais e a transcomunicação instrumental.
A xenoglossia
A xenoglossia é uma importante evidência para o moderno espiritualismo. Trata-se de um fenômeno em que o médium conversa em uma língua que ele não teve a oportunidade de aprender.
Bozzano relatou o caso de uma médium que, incorporada por um espírito, conseguia manter uma conversação em grego moderno, uma língua que ela desconhecia. Nesse caso, tratava-se do espírito de uma pessoa que viveu na Grécia. Além do grego, a médium também podia conversar em mais de oito línguas desconhecidas para ela.
Para esse caso foram levantadas objeções, tentando explicá-lo através dos fenômenos da criptomnésia ou pantomnésia, nos quais o médium apenas repete frases descontextualizadas que ele leu em algum livro e depois esqueceu. Porém, essa objeção não explica o caso em questão, pois a médium podia manter uma longa conversa em línguas que não falava e sempre aplicando as frases ao contexto do momento (Bozzano, 1980, p. 13-17).
Diz Bozzano acerca das manifestações do espírito Patience Worth:
As primeiras obras literárias de Patience Worth foram ditadas em inglês moderno; porém, logo ela se decidiu a ditar algumas, entre as quais o magistral poema citado, na língua e nos dialetos do século dezessete, declarando fazê-lo com o objetivo de provar a sua independência espiritual com relação à médium, visto que ninguém no mundo seria capaz de ditar um poema inteiro no rude idioma anglo-saxônio de há dois séculos e meio e, além do mais, sem nunca se deixar arrastar ao emprego de qualquer vocábulo posto em uso depois daquela época. Em seguida, volveu a ditar suas obras em inglês moderno, mas servindo-se com absoluta oportunidade de locuções e vocábulos antiquados, sempre que, assim fazendo, mais vivas tornava as descrições. Nada obstante, continuou e continua a conversar claramente com os experimentadores no seu dialeto nativo (Bozzano, 1980, p. 80).
Neste caso, o espírito Patience Worth, através da mediunidade da senhora Curran, manifestou um excelente fenômeno espiritualista de xenoglossia, elaborando textos em um inglês antigo e contextualizado de acordo com a época.
Outra objeção normalmente levantada contra a xenoglossia é a de que o médium capta a conversa em língua estrangeira diretamente da memória de algum dos assistentes, através de telepatia. Porém, essa hipótese não se sustenta porque a habilidade de falar uma língua não pode ser captada da mente de outra pessoa. Um idioma precisa ser aprendido para poder ser utilizado de forma racional e contextualizada (Bozzano, 1980, p. 202).
A manifestação de espíritos desconhecidos
De especial importância é o relato do caso do espírito Ruytemberg Rocha. Esse espírito começou a se manifestar em 1961, durante sessões espíritas na cidade de São Paulo. Em 1971, o Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísicas (IBPP) concluiu os estudos sobre as comunicações desse espírito. Tratava-se de um caso de “visita inesperada”, quando o desencarnado não é conhecido por nenhum dos assistentes. O espírito forneceu excelentes provas de identificação. Tanto o médium como os assistentes desconheciam o desencarnado. As informações sobre o falecido não foram fáceis de encontrar, porém todos os dados puderam ser confirmados (Andrade, 1993a, p. 71-75).
Esta experiência foi importante porque derruba uma objeção muito conhecida contra o moderno espiritualismo, de que o fenômeno se explicaria por uma suposta leitura do médium sobre a memória inconsciente dos participantes da sessão. Se ninguém conhecia o espírito e os dados sobre ele foram investigados com dificuldade, a leitura do inconsciente não se sustenta.
O médium só obtêm informação de uma pessoa se estiver conectado de modo não-local a ela. E o médium só se conecta com indivíduos dos quais tem conhecimento (Bozzano, 2007, p. 40-42).
As revelações transcendentais
As revelações transcendentais são as descrições feitas pelos espíritos sobre sua vida após morte. Houve muitos pesquisadores que negaram o valor dessas informações, mas Bozzano demonstrou que elas são verdadeiras. O principal critério utilizado foi o da similaridade das descrições apresentadas pelos desencarnados, através de médiuns diferentes e desconhecidos entre si (Bozzano, 1996, p. 170-172).
De acordo com Bozzano, há uma notável concordância nos relatos feitos pelos espíritos acerca da vida no mundo espiritual. Essa concordância inclui temas como: a forma humana e o corpo sutil, a ignorância acerca da própria morte, a recapitulação do passado, os encontros com espíritos de familiares, o sono reparador, as características do meio espiritual, a objetividade do mundo do além, a força criadora do pensamento, a telepatia com forma de comunicação, a clarividência sobre os objetos, a locomoção dos espíritos e a lei de afinidade (Bozzano, 1996, p. 165, 166).
Diz Bozzano sobre as objeções às revelações transcendentais:
Ponderarei, finalmente, que, se as “revelações transcendentais” fossem, em massa, “romances subliminais”, não só deveriam contradizer-se mutuamente, não só não deveriam produzir-se ao mesmo tempo em que se produzem provas de identificação espírita, como, sobretudo, deveriam refletir, em grande parte, as crenças da ortodoxia cristã, no tocante à modalidade da existência espiritual – crenças que os médiuns assimilaram com o leite materno. Pelo contrário, nada disto ocorre. Desde os primeiros tempos do movimento espírita, as personalidades mediúnicas deram, sobre a existência espiritual, as mesmas informações que presentemente dão, informações que contrastam, em absoluto, com as crenças que os médiuns e os assistentes professam. Observarei que esta circunstância foi causa de grandes decepções para os primeiros espíritas, que, pela aparente obscuridade de tais narrativas, se viram levados a supor que estavam sendo constantemente joguete de “Espíritos inferiores” (Bozzano, 1996, p. 172).
Uma das objeções mais frequentes às revelações transcendentais era de que elas eram apenas romances inventados pelos médiuns. Porém, se tal fosse o caso, elas deveriam ser totalmente contraditórias e não apresentar qualquer semelhança. Seria muito improvável que textos fantasiosos, escritos por pessoas desconhecidas umas das outras, pudessem concordar em tantos pontos. Além disso, se esses textos fossem apenas romances, eles deveriam refletir as crenças religiosas dos médiuns. Vamos continuar este assunto num artigo futuro.
A transcomunicação instrumental
A transcomunicação instrumental se caracteriza pelas gravações de vozes de espíritos em dispositivos eletrônicos. Os estudos desses fenômenos começaram com Friedrich Juergenson em 1959.
Um dos métodos utilizados pelos desencarnados para realizar as gravações é a interferência em ondas de rádio.
Diz Juergenson sobre a ação dos espíritos sobre as estações de rádio:
Por mais fantástico que pareça tudo isto, a verdade é que se trata de vozes de pessoas mortas, que por livre iniciativa buscam lançar uma ponte sobre o abismo que separa o seu plano de existência do nosso. Com esse objetivo, os organizadores do Além utilizam não apenas uma instalação semelhante à do radar, mas também dispõem, ao que parece, de uma frequência de onda eletromagnética especial, que manipulam à vontade, interferindo nas ondas curtas, médias e longas das nossas estações radiofônicas.
Todos os contatos efetuados com o nosso plano de existência estão sob a constante fiscalização da chamada Central Investigation Station e, ao que tudo indica, não podem realizar-se sem a sua colaboração (Juergenson, 1972, p. 105).
Alguns pesquisadores começaram a explicar esse fenômeno pela ação do médium sobre a matéria, ou seja, seria um caso de psicocinesia feita pelo inconsciente do operador.
Diz Juergenson sobre a objeção com base no inconsciente:
Ainda que admitíssemos que o meu subconsciente representasse um desses centros de força, neste caso poderiam considerar-me o maior gênio do mundo, capaz de produzir inconscientemente uma emissora de rádio com função dinâmica, inclusive antenas, estúdio, pessoal técnico, instrumentos musicais, coros, cantores solistas e oradores de toda espécie e, além disso, dotado do dom mágico de imitar perfeitamente os mais variados idiomas, as vozes dos mortos de qualquer sexo e idade, e dentre elas também vozes que nunca conheceu nem ouviu antes. E isto não basta. O mais extravagante “milagre” consistiria mesmo na minha capacidade de apoderar-me, à queima-roupa, de qualquer onda de rádio existente no éter, ou seja, transformar à vontade, total ou parcialmente, os programas irradiados no momento por qualquer emissora, fosse ela a BBC de Londres ou a radiodifusora da Alemanha Ocidental, impondo os programas de minha própria “emissora inconsciente.” Esta seria uma proeza que nem a mais potente emissora de interferência russa seria capaz de realizar (Juergenson, 1972, p. 112).
Juergenson refuta a explicação de que a transcomunicação se deve ao inconsciente, afirmando que ele não poderia organizar uma estação de rádio inteira, com todas as suas funcionalidades, apenas através de sua mente. Outro ponto ressaltado foi que as comunicações vinham em diversas línguas e eram provenientes de espíritos desconhecidos. Finalmente, Juergenson não teria a capacidade de criar interferências em ondas de rádio apenas utilizando sua mente. Seria necessário um poder psicocinético incrível, que nem os maiores paranormais conseguiriam manifestar.
Referências
Andrade, Hernani Guimarães. Morte-Renascimento-Evolução: Uma Biologia Transcendental. São Paulo: Editora Pensamento, 1993a.
Bozzano, Ernesto. Xenoglossia: mediunidade poliglota. Tradução: Guillon Ribeiro. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1980.
Bozzano, Ernesto. A Crise da Morte. Tradução: Guillon Ribeiro. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1996.
Bozzano, Ernesto. Animismo ou Espiritismo?: Qual dos Dois Explica o Conjunto dos Fatos? Tradução: Guillon Ribeiro. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2007.
Juergenson, Friedrich. Telefone para o Além: Nova Experiência de Contato Científico com o Além, dentro dos Recursos Atuais da Era Tecnológica. Tradução: Else Kohlbach. Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1972.
Paula e Silva, Herley Leite. O Místico Idealista. Não publicado. Curitiba, 2024.