sexta-feira, 5 de julho de 2013

A Vida após a Morte



por Herley Leite de Paula e Silva

A situação da consciência após a morte

Quando a consciência deixa de projetar e perceber um corpo físico, ela entra no domínio transcendente, onde passa a projetar uma série de formas-pensamento. Segundo Bozzano (1996, p. 75, 77, 78), as projeções sutis de formas-pensamento podem incluir vários tipos de cenários gratificantes.

Segundo Bozzano (1996, p. 165, 166) e Andrade (1993, p. 92, 93), os acontecimentos após a morte acontecem, em geral, na seguinte sequência:


1) Na morte, ocorre a dissolução mais ou menos lenta da identificação da alma com o corpo físico.

2) Depois da dissolução dos laços com o corpo físico, o corpo mental flutua sobre o organismo físico morto.

3) O ser manifesta a ilusão de ainda estar vivo. Como a alma pensa que está viva, tenta falar com as pessoas vivas, mas estas não a escutam.

4) A seguir ocorre a entrada em um túnel escuro.

5) No final do túnel temos a visão da clara luz da consciência primordial.

6) Nesse momento há uma sensação de muita paz e tranquilidade.

7) Durante o encontro com a Luz, a alma experimenta a recapitulação do passado pela memória, de forma holográfica. Neste momento ocorre também uma reavaliação da alma pela consciência superior.

8) Uma experiência muito comum é o encontro com parentes e amigos que já morreram.

Segundo Bozzano (1996, p. 165), após as projeções de formas-pensamento, o ser entra em um estado de inconsciência e passa pelo sono reparador. Após o despertar, pode passar para as esferas felizes do mundo espiritual. No mundo espiritual, o espírito adquire um corpo mental, projetado pela alma de acordo com as potencialidades da mente.


Após o sono reparador os espíritos passam para as esferas felizes do mundo espiritual. A vida nas esferas felizes do mundo espiritual, para onde passam as almas positivas, constitui um domínio parecido com a Terra, com florestas, montanhas, rios, cidades resplandecentes e outros seres desencarnados com forma humana. A paisagem, onde almas humanas, espíritos alienígenas e almas de animais vivem é uma projeção mental da consciência oriunda da realização das potencialidades do pensamento.

Depois de uma permanência nas esferas felizes, o sujeito pode passar para o reino arquetípico e se tornar um espírito elevado.

As almas que se manifestam num corpo espiritual podem alcançar a iluminação na dimensão dos arquétipos. O arquétipo referido aqui é uma potencialidade da consciência. Neste caso as almas se tornam espíritos elevados a serviço da humanidade.

A visão da clara luz da consciência

Algumas considerações de Berman (2000) podem trazer maior esclarecimento sobre o estado do espírito quando encontra a Clara Luz:

O que é esse conhecimento que a luz comunica àqueles que tiveram uma experiência de quase-morte? É o conhecimento de que tudo no universo está conectado, em última instância, por meio do amor divino. Tal como escreveu Emerson: “Nós vivemos em secessão, em divisão, em partes, em partículas. Enquanto isso, dentro do homem está a alma do todo; o silêncio sábio; a beleza universal, à qual cada parte e partícula estão igualmente relacionadas; o eterno UM”. (Berman, 2000, p. 134).

O mesmo autor cita um paciente de EQM: “Quando você vê a luz, é como se ela o absorvesse e de alguma forma você se tornasse uno com ela. A luz se torna você e você se torna a luz”, (Berman, 2000, p. 134).

Ele cita outro paciente: “Eu também tinha consciência de tudo, porque me tornei tudo”, (Berman, 2000, p. 135).

Sobre a ausência de separação sujeito-objeto Berman (2000) diz:

Tal como me contou Boyce Batey, durante sua experiência mística sua consciência pareceu existir “em outro plano ou dimensão de realidade. Havia em mim (...) uma qualidade de consciência que eu nunca antes ou desde então tinha experimentado. (...) Era como se eu estivesse ciente das leis do universo e do significado da existência. Eu transcendi todas as limitações normais do sujeito material até que não havia mais divisões entre mim e aquilo que não era eu; tudo era um”. (Berman, 2000, p. 193).

Após a visão da clara luz, a alma pode passar para as esferas felizes do mundo espiritual.

As esferas felizes do mundo espiritual

A maior parte dos espíritos vive uma experiência agradável nas esferas felizes do mundo espiritual. Antes disso, porém, elas passam pelo processo de revisão da vida e pelo sono reparador.

No processo de revisão da vida, nós nos correlacionamos com as outras almas com as quais tivemos contato e experimentamos em nós o sofrimento que nossas ações negativas tiveram sobre elas.

O domínio transcendente não é um mundo independente da consciência, nem mesmo o mundo físico é objetivo ou inerentemente existente. Também não há tempo e espaço nesse domínio.

O domínio transcendente é um mundo mental. É uma realidade de designações da consciência sobre as potencialidades mentais. As almas desencarnadas no mundo espiritual se comunicam através de um tipo de correlação não-local e permanecem num estado sutil de consciência.

O nosso inconsciente sofre as impressões da vida terrena (potenciais) e fornece os fundamentos para as experiências que teremos no mundo espiritual. Há uma correlação não-temporal da alma com as ideias da última vida física.

No mundo mental, o espírito continua realizando escolhas dentre as potencialidades mentais e projetando cenários. Ele pode, a partir delas, projetar formas-pensamento.

Diz Juergenson (1972):

Tinha a impressão de que os mortos constantemente extravasavam seus sentimentos de modo espontâneo e irrestrito. Desse ponto de vista, poder-se-ia considerar o Além como o plano de existência do subconsciente global, onde todos os impulsos podem manifestar-se livremente. Em outras palavras, é o plano de existência da emoção, da imaginação e das sensações. Tudo aí parecia processar-se com espantosa velocidade, mudando-se, formando e transformando (Juergenson, 1972, p. 129).

Segundo Bozzano (1996, p. 78-80 e 88), nas esferas espirituais há uma percepção de objetos sutis. É gerado um cenário mental com corpos mentais em forma humana e projeções sutis de paisagens muito parecidas com as da realidade terrestre. Há projeções mentais de montanhas, florestas, rios e cidades.

Comentando o livro Unhörbares wird Hörbar (o inaudível torna-se audível) do Doutor Konstantin Raudive, diz Dubugras (1974) sobre as ocupações dos espíritos:

Como já foi dito, as sentenças não são descritivas. O que encontramos é a menção do objeto, do vício, do meio de transporte, etc. Vamos exemplificar com uma conversa, pois esta nos permite conhecer um ônibus, seu motorista, algumas condições geográficas, as opiniões das vozes sobre certas pessoas, sua aptidão para o cargo que exercem etc. Diversas vozes conversam entre si. Vão fazer uma excursão de ônibus (falam do susabus). Este será dirigido por um motorista que três dos passageiros deveriam ter conhecido em outras circunstâncias, pois uma, nervosamente, chama atenção dos amigos para o fato de que é o Popa quem vai dirigir. Outra acrescenta que Popa dirige com muita velocidade. Popa é veloz. Logo alguém exclama: "Estamos na 9ª rampa”. Outra diz, surpresa: "Lá está o mar, o belo mar ". Existe, pois, o mar, e o ônibus deve estar subindo uma montanha. Rapidamente chegam ao seu cume e saem do ônibus, ouve-se alguém queixando-se do frio e do vento. Outra observa que o local só é bom para lobos, portanto deve ser um lugar bem alto, frio e açoitado por ventos.
Nesse cume há um telescópio. Uma voz chega ao instrumento e espia por ele. Exclama, admirada, que vê o Raudive. Outra quer espiar também, mas sua visão é defeituosa e o funcionário que cuida do telescópio tem que ajustar primeiro uma lente, depois a outra. Mas, apesar da novidade, há o eterno queixoso que reclama de tudo, enchendo a paciência de outra voz que, ironicamente, lhe diz que deveria ter trazido seu "caixão" consigo! Através de frases semelhantes, ficamos sabendo que tanto as vozes quanto os pesquisadores precisam de "guias" para efetuar as transmissões e as gravações. A do Dr. Raudive é Margaret, que foi sua amiga e secretária em vida. O Dr. Juergenson também tinha a sua. Parece que cada pesquisador deve usar somente aquela que lhe foi designada. Certa vez o Dr. Raudive, pensando que melhoraria a transmissão, apelou para a "guia" do Dr. Juergenson. Antes não o tivesse feito. O "lado de lá" não gostou e o resultado foi uma grande confusão. As pontinhas de ciúmes continuam acirradas entre aqueles que os vivos chamam de "mortos" (Dubugras, 1974, p. 16 e 17).

Para saber mais sobre o livro de Raudive leia o artigo Gravando o Inaudível aqui mesmo neste blog.

A escritora Dubugras (1974) continua:

Existem casas, hospitais, pensionatos, escolas etc., e elas falam de roupas, falta de roupas, banheiros, comida, bebida e cigarros, citando as marcas. 

Conservam o sentimento de nacionalidade e agrupam-se segundo ela. Em certos setores o domingo é guardado. Existem diversas profissões, como aqui na Terra. Plantam, colhem e cozinham, pois falam dos trigais e do pão que comem. 
É interessante observar que as vozes viajam, sabem para onde vão e onde estão. Também têm conhecimento do que seus amigos "vivos" estão fazendo, para onde vão e onde estão. (Dubugras, 1974, p. 17).

A interconexão da consciência mantém as almas em correlação não-local, de acordo com suas características psíquicas e elevação espiritual. As almas que experimentam uma esfera espiritual só são vistas por almas com as mesmas qualidades psíquicas. Isto provoca diferenciações nas projeções mentais de um nível de consciência para outro.

É claro que a concordância quanto às descrições das esferas espirituais ocorrerá dentro de cada dimensão mental, pois haverá projeções e atividades de interesse que vão variar de uma dimensão para outra. Porém, no geral, haverá uma concordância básica, pois todas essas descrições são manifestações da consciência interconectada.

Os corpos mentais são projeções do sujeito, assim como o são os corpos biológicos, mas os corpos mentais são sutis. As projeções de objetos mentais no mundo espiritual derivam de escolhas sobre os potenciais da consciência. A própria forma que reveste o corpo mental origina-se das escolhas sobre os potenciais do inconsciente. As potencialidades escolhidas pela consciência geram um mundo multifacetado, transparente e luminoso, em que se pode mudar de um lugar para outro instantaneamente.

Nos estados felizes do mundo espiritual, as designações das almas produzem belos cenários.

No mundo espiritual a consciência tem a percepção de um corpo mental e continua tendo lembranças. A alma ainda está apegada às suas memórias, por isso ela ainda percebe casas e árvores, por exemplo.

No domínio transcendente, a alma permanece consciente, mas não é como a consciência da vigília. O sujeito ali não tem a vivência da realidade tridimensional. No mundo sutil não há a percepção de aparentes coordenadas espaciais ou temporais (por exemplo, a distância entre cidades no mundo físico). Tal fenômeno só é possível em nosso mundo físico. Isto não impede, porém, que o mundo espiritual tenha uma sensação de tangibilidade.

Nesse domínio não-local a alma não experimenta a passagem do tempo. Tudo está interconectado, mas ainda não de forma total como ocorre na iluminação. A alma no domínio transcendente ainda tem predileção por certos significados e certos potenciais de pensamento.

Segundo Bozzano (1996, p. 163-177), no domínio transcendente o ambiente é fluido, nem todos veem as mesmas imagens, os objetos sutis aparecem e desaparecem, as almas podem, até certo ponto, se sentir como parte indivisa do que é visto. Basta pensarmos em um local para imediatamente estarmos nele.

Em seu relato de EQM, Eadie (1994, p. 83) disse que pôde “entrar” em uma flor para sentir sua essência. Ela se tornou una com a flor.

Nos estados felizes do mundo espiritual os seres se comunicam através de telepatia, que é uma conexão não-local. Não se vivencia a passagem do tempo. É possível conhecer as possibilidades do futuro e do passado. Os corpos mentais aparecem e desaparecem, e alguns deles podem estar em mais de um lugar simultaneamente. As visões não diminuem com a distância. A realidade parece ser um prolongamento da alma.

As potencialidades mentais que são escolhidas, e que geram os corpos e paisagens sutis, são provenientes da consciência e da memória. No caso de potencialidades mentais pode-se dizer que são memórias criadas durante a vida física e que após a morte geram as projeções sutis do mundo espiritual.

No mundo espiritual a alma tem escolhas para fazer. Graças à percepção e ao livre-arbítrio são possíveis as escolhas e o crescimento espiritual. As pesquisas sobre as experiências de quase-morte e as revelações transcendentais como as relatadas por Bozzano (1996, p. 165, 166) comprovam que há crescimento espiritual no domínio transcendente. Com o progresso no mundo espiritual é possível para a alma atingir a dimensão arquetípica ou o estado da iluminação a partir dessa esfera.

O nosso eu e a nossa mente são capazes de funcionar sem o cérebro, o que tornou possível o surgimento da própria vida, pois é a consciência que escolhe o modo de ser das partículas materiais e do próprio corpo biológico. No mundo espiritual não há o cérebro biológico. No entanto a consciência continua realizando escolhas dentre as potencialidades da mente.

Também o fato de os seres desencarnados procurarem se comunicar com os vivos demonstra que eles estão conscientes e a concordância de suas comunicações prova que o mundo sutil é, em certa medida, consensual.

A dimensão arquetípica

Após um período de desenvolvimento nas esferas felizes do mundo espiritual, a alma pode passar para a dimensão arquetípica, com um corpo espiritual, e se tornar um espírito elevado a serviço da humanidade. Os espíritos elevados também atuam no mundo terrestre através da correlação não-local com os sujeitos encarnados.

Segundo Goswami (2005, p. 174, 178-180), tais almas realizadas vivem no mundo transcendente dos arquétipos ou potencialidades, mas ao mesmo tempo influenciam as entidades encarnadas em nossa realidade manifestada.

Na dimensão do corpo espiritual o ser vive num nível mental de meditação e não no nível do ego superficial. Ele possui nessa dimensão um corpo de luz ou corpo espiritual. Há ainda uma sutil separação entre sujeito e objeto. É um reino de luz e cores, mas não é distinto como as visões das esferas espirituais ou do mundo físico.

Os espíritos elevados existem em uma realidade formada por projeções de arquétipos ou potencialidades da consciência. Podem ter projeções do passado e de tudo o que pode acontecer como possibilidade, mas não se apegam a nenhuma dessas visões e se mantêm em concentração. Todas as percepções que a alma tem no corpo espiritual são originadas dos potenciais da consciência.

Depois da dimensão arquetípica a alma pode atingir a iluminação que é a identificação com a consciência primordial, ou Self. O estado de consciência passa ser uma condição sem separação sujeito-objeto. Esta última fase é chamada de iluminação ou libertação.

A iluminação

Segundo Goswami (2005, p. 174, 180), após passar pela dimensão arquetípica a alma pode se identificar com a consciência superior. Identificar-se com consciência primordial é atingir a iluminação. A iluminação é a entrada do sujeito no supremo estado de consciência, quando passamos a viver num estado de eterna felicidade. É preciso esclarecer, porém, que continuamos a ter nossa individualidade interconectada com todos os seres.

Quando a alma se identifica com a consciência primordial, ela alcança a libertação, onde não há mais a ilusão da separação sujeito-objeto e todos se sentem interconectados.  O estado é de intensa felicidade.


Referências

Andrade, Hernani Guimarães. Morte-Renascimento-Evolução. São Paulo: Editora Pensamento, 1993.


Berman, Phillip L. Experiências de Quase-Morte e o Dom da Vida; Rio de Janeiro: Record: Nova Era, 2000.

Bozzano, Ernesto. A Crise da Morte; Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, 1996.

Dubugras, Elsie. Os mortos falam. Revista Planeta, São Paulo, nº 18, p. 08-20, fev. 1974.

Eadie, Betty J. Envolvido pela Luz: a experiência do limiar da morte. Tradução: Terezinha Batista dos Santos. Rio de Janeiro: Record, 1994.

Goswami, Amit. A Física da Alma. Tradução: Marcello Borges. São Paulo: Aleph, 2005.


Juergenson, Friedrich. Telefone para o Além; tradução de Else Kohlbach; Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1972.