segunda-feira, 3 de junho de 2013

A Consciência como Base do Ser


Por Herley Leite de Paula e Silva

O Idealismo Filosófico

O idealismo filosófico, na concepção deste trabalho, reconhece a consciência primordial, ou Self, e as possibilidades quânticas como as bases da existência; e que o espaço e o tempo são o resultado do colapso de ondas de possibilidade realizado pela consciência; essas ondas são potenciais que, quando realizadas (sofrendo colapso quântico), assumem uma aparência de corporeidade.

Tudo, na verdade, é projeção do espírito. As leis do universo, a forma do espaço, a duração do tempo, a evolução e os organismos são ondas de possibilidades, colapsadas e reveladas no mundo da manifestação. Segundo Goswami (2007, p. 170-172), essas possibilidades se unem em espaços-tempo imaginários ou arquetípicos, alguns viáveis outros não, oferecendo escolhas para a consciência.

Para dar uma ideia geral, pode-se dizer que só a consciência e as possibilidades são reais e elas constituem as bases do universo. Tudo são possibilidades ou virtualidades existentes num domínio transcendental que se expressam por escolha da consciência e dão uma ilusão de serem físicas e reais.


Segundo Goswami (2005, p. 23) o idealismo, comprovado pela física quântica, se baseia na ideia de que a consciência é a base de tudo, e que até mesmo a matéria é produzida pela consciência.

A origem do Universo

Quando as possibilidades evoluíram de modo a oferecer um universo capaz de abrigar a vida, a consciência primordial, através da correlação com as possibilidades do organismo biológico, escolhe um padrão de possibilidades espaço-temporais capaz de abrigar a vida. A escolha provoca um colapso quântico retroativo através do qual o espaço e o tempo partem de uma simples flutuação quântica para a formação das galáxias, estrelas, planetas e organismos vivos.

De acordo com Goswami (2005, p. 58), a escolha feita pela consciência trouxe essa alternativa para o tempo real, iniciando o universo com uma minúscula área do espaço-tempo. Esse início foi o Big-Bang. É preciso esclarecer que tudo era apenas possibilidade até ocorrer a observação feita pela primeira célula viva. Nesse momento as ondas de possibilidade entram em colapso (são realizadas) e toda a história desde o Big Bang até a primeira célula torna-se real no mundo manifestado.

É importante salientar que a forma do espaço, a duração do tempo e os corpos dos seres são expressões com aparência corpórea das possibilidades.

Contudo, não há a ideia de criação do nada ou montagem do universo como se fosse uma máquina; o processo todo ocorre “dentro” da consciência com o colapso de ondas de possibilidade.

A partir daí tudo evolui material e espiritualmente até que a alma encarnada manifeste o mais perfeitamente possível a natureza pura de sua consciência primordial (ou Self ).

A separação sujeito-objeto

De onde veio a consciência, identificada com a primeira célula, que observou e colapsou toda a realidade física? A consciência já existia antes do surgimento dos primeiros organismos vivos. A consciência nunca teve princípio e nunca terá fim. Porém, houve um momento em que ela entrou em correlação com um organismo biológico. Foi o início da separação sujeito-objeto no domínio transcendente e depois no mundo físico.


O Self superior nunca teve princípio e existia antes da vida terrestre, pois ele é uma instância suprema da consciência.

Quando a consciência vivia no estado das possibilidades ela tinha uma percepção da unidade. Era um estado de sono criativo.

Quando a consciência desperta de seu sono, ela inicia a separação sujeito-objeto, identificando-se com os primeiros organismos biológicos.

Porém, depois que o espírito passa a viver no mundo físico ele se esquece de sua verdadeira condição. Mas, a nossa essência fundamental interior nos impulsiona para a busca da iluminação.

A consciência desde o início de sua vida como sujeito no mundo manifestado tornou-se ignorante de sua verdadeira natureza e mantida no véu da ilusão. Com o início da separação sujeito-objeto, o ego encarnado não tem mais acesso às suas faculdades ou atributos superiores, porque não os reconhece. Mas o espírito possui em estado potencial todas as qualidades que um dia manifestará.

No domínio transcendente da consciência havia as potencialidades para a iluminação e também as possibilidades quânticas para o Universo, que, uma vez designadas, colocariam um véu de ignorância sobre a alma. Neste sentido, a consciência era permeada tanto pelo potencial de iluminação quanto pelo potencial de ignorância.

Após a separação sujeito-objeto e a realização (colapso) das ondas de possibilidade do Universo, as qualidades potenciais da consciência primordial ficaram vivas no inconsciente do ego terreno e se desenvolveram, impulsionando a evolução.

Os meios para a realização desta evolução são as possibilidades quânticas, as observações feitas pelas almas, as leis físicas e as leis espirituais.

O que parece ser o mal, na verdade, é a ausência do bem, o resultado da permanência das almas na ignorância. Seremos libertados do mal quando alcançarmos a iluminação.

O idealismo e os ensinamentos de Platão

O idealismo, neste texto, afirma que a consciência e as possibilidades quânticas constituem a base do Universo. O domínio da consciência compreende a percepção, o pensamento, a criatividade e o livre-arbítrio.

A consciência é dotada de inúmeras funções e potencialidades. Numa alma iluminada, em meditação, o campo mental e as possibilidades quânticas ficam unidos num todo, em que não há separação sujeito-objeto. Porém, na consciência manifestada existe uma ilusória separação em que o sujeito fica de um lado e as possibilidades se tornam objetos do outro lado.

A consciência nunca teve princípio e sua manifestação nunca terá fim. Porém, ela se identifica com o ego terreno isolado. É a consciência existente no mundo manifesto que escolhe entre as possibilidades quânticas do Cosmos.

Atualmente a consciência existe identificada com a alma encarnada, impulsionando o desenvolvimento da personalidade até que ela atinja a iluminação. Suas capacidades superiores estão em estado de latência. Quando ocorrer a iluminação, a alma iludida alcança o estado da consciência primordial.

Vamos agora fazer uma comparação entre o conceito idealista das possibilidades e o ensinamento de Platão sobre as ideias.

Segundo Platão (2002, p. 80, 81, 84), há um domínio além do espaço e do tempo, chamado de Mundo das Ideias ou Mundo dos Arquétipos onde existem, de modo transcendental, ideias eternas sobre tudo o que é possível existir. Um arquétipo é um padrão, modelo ou imagem de algo que deve ser manifestado.

Para Platão (2002), haveria ideias ou formas eternas e fixas de objetos físicos, de organismos biológicos de todo tipo e também sobre princípios matemáticos, beleza, bem, justiça, ética, imortalidade, etc. Burns (2005, p. 108-109) diz que, na Teoria das Formas, tudo o que existe no Universo seria uma cópia imperfeita das ideias.

Quanto aos objetos físicos, eles são o resultado de observações realizadas pela consciência quando manifestada no mundo físico. No domínio transcendente desenvolvem-se ondas de possibilidade quânticas que colapsam em partículas subatômicas. Essas partículas mais tarde serão utilizadas pela consciência para construir os objetos físicos. A realidade manifestada seria uma escolha dentre as várias ondas de possibilidade.

É possível perceber a identidade do ensinamento de Platão com o pensamento idealista. Como as ideias eternas e fixas num domínio transcendente não-local e não-temporal, o idealismo aqui postula que existem muitas possibilidades nesse mesmo domínio transcendente. Essas possibilidades são escolhidas pela consciência, quando identificada com o ser vivo. A partir das possibilidades são formadas todas as leis, princípios e objetos.

Antes que o nosso universo físico estivesse formado, a consciência vivia no domínio das possibilidades quânticas. Nesse domínio já existiam os contextos ou arquétipos que serviriam de base para a elaboração feita pela consciência sobre a matéria física.

Depois da escolha dos contextos e leis mentais e físicas, desenvolvem-se as possibilidades das partículas físicas ou ondas de possibilidade quânticas. As ondas de possibilidade evoluem até que haja potencialidades para universos inteiros com suas próprias leis e princípios físicos. É a escolha feita pela consciência que define o universo que vai se tornar manifesto ou “real”.

A matéria e a energia que se desenvolvem no espaço-tempo são formadas de partículas, uma transformação das ondas de possibilidades, tendo seu movimento orientado pelas constantes físicas que também se originam do colapso de ondas de possibilidade.

Os campos tridimensionais (gravitacional, eletromagnético, etc.) também resultam do colapso das possibilidades, fixando a linha do tempo, a forma das dimensões, a forma dos átomos e moléculas, dos corpos e das estrelas e galáxias; posteriormente, essas energias terão um papel no desenvolvimento da vida.

Porém, só a consciência e as possibilidades são reais. Os vários níveis da existência constituem projeções da consciência; são como ilusões ou uma realidade virtual.

O reforço das probabilidades

A sucessiva escolha e designação de significado às possibilidades influenciam as potencialidades mentais. De acordo com Goswami (2008, p. 98, 99), ao longo da vida física, nossas ações criam potenciais em nosso inconsciente. Esses potenciais, ou probabilidades, têm a tendência de se repetir.

A forma dos organismos vivos foi realizada durante a evolução biológica através de uma interação da consciência manifestada com as ondas de possibilidade do DNA. A seleção natural, por sua vez, fixou as formas bem-sucedidas. É claro que após a forma ser elaborada pela consciência ela se torna um potencial e passa a ser repetido através de conexões não-locais.

Durante a vida física a consciência realiza o colapso quântico das ondas de possibilidade para formar a matéria e os corpos biológicos. Também realiza colapsos quânticos nas ondas cerebrais. Toda essa atividade da consciência sobre o mundo físico também cria potenciais no inconsciente. Esses contextos ou potencialidades servem de base para o subsequente colapso quântico de outras ondas de possibilidade.

As potencialidades mentais positivas como a percepção estética, o senso ético, o amor, a compaixão, a equanimidade e a humildade, e as potencialidades mentais negativas como o ódio, a inveja, o ciúme, a vingança, a cobiça, a raiva e o egoísmo também foram designadas com o tempo. Os atributos negativos se desenvolveram principalmente na evolução biológica quando as almas encarnaram em corpos de animais inferiores e praticaram a feroz competição.

Todas as potencialidades mentais se formam durante as escolhas feitas pelas almas. Isto é realizado na relação da consciência com as diversas potencialidades da ética, da espiritualidade, das leis do Universo e da matéria física. Porém, todas as características mentais, positivas ou negativas, já existiam como potenciais ou sementes dentro da consciência.

As potencialidades mentais positivas triunfam porque levam à felicidade, enquanto as negativas levam ao sofrimento.

As principais funções da consciência são as capacidades de percepção e escolha; as quais na vida terrena são exercidas pelo ego. As funções como inteligência, pensamento, sentimento e emoção dependem das funções principais mencionadas.

O potencial para atingirmos a iluminação e para desenvolvermos potencialidades mentais positivas está dentro de nós mesmos. Os arquétipos existem como possibilidades sujeitas à nossa escolha. Os diversos potenciais espirituais e físicos provêm da consciência e nós escolhemos dentre eles, reforçando atributos mentais.

As potencialidades mentais se originam na consciência, e à medida que a alma as reconhece e as tornam hábitos, estas ficam armazenadas no inconsciente na forma de potenciais ou contextos.

Na consciência estão as potencialidades das funções psíquicas, as propensões para o bem ou o que é positivo (como o amor, a justiça e a estética) e as propensões para o comportamento negativo (como a inveja, o ódio e o egoísmo). As propensões para o bem ou para o mal são escolhidas pelas almas.

Da interação da consciência com suas potencialidades mentais e com o corpo resulta o ego terreno e a mente. Da interação da alma encarnada com as ondas de possibilidade quântica resultam os diversos objetos.

A consciência superior é a base da existência, constituindo a natureza essencial de cada ser. Ela é interconectada e, assim, possui um aspecto universal e um aspecto individual. O aspecto individual é o Self de cada ser consciente, e o aspecto universal é a consciência interconectada ou coletiva.

 

Referências

Burns, Edward Mcnall; Lerner, Robert E. Meacham, Standish. História da Civilização Ocidental, vol. I; São Paulo: Globo, 2005.

Goswami, Amit. A Física da Alma; tradução Marcello Borges – São Paulo: Aleph, 2005.

Goswami, Amit. O Universo Autoconsciente: como a consciência cria o mundo material. Tradução Ruy Jungmann. – São Paulo: Aleph, 2007.


Goswami, Amit. Deus não está morto: evidências científicas da existência divina. Tradução: Marcello Borges. São Paulo: Aleph, 2008.

Platão. Fédon: Diálogo sobre a Alma e Morte de Sócrates. Tradução: Miguel Ruas. São Paulo: Editora Martin Claret Ltda., 2002.