quarta-feira, 12 de junho de 2013

A Origem do Universo


por Herley Leite de Paula e Silva

Introdução
 
A consciência primordial, ou Self, vivencia a separação sujeito-objeto através da mensuração quântica e escolha no mundo manifestado. Devido à ilusão, emergem os seres encarnados. Quando a ilusão terminar, eles se tornarão espíritos superiores, interconectados a todos os outros seres.

Numa das possibilidades quânticas cósmicas em que aparece o desenvolvimento de uma célula viva, a consciência provoca a realização (colapso quântico) de todo o universo, desde o Big Bang até o surgimento da célula. O próprio tempo só passa a existir no momento que a consciência da célula viva faz a observação.
 

A separação sujeito-objeto
 
Goswami explica a mensuração feita pela célula:

Parece razoável postular que a mensuração quântica auto-referencial começa com a vida – e define-a – em uma única célula viva. A célula viva é autônoma e tem integridade própria; percebe-se como distinta e separada de seu ambiente. Faz sentido afirmar que mensurações quânticas dentro da célula viva criam a distinção entre a vida e seu ambiente. Antes da mensuração quântica, há apenas a consciência e suas possibilidades; depois, há separação – vida e ambiente. (Goswami, 2005, p. 63).

O Big Bang
 
O espaço-tempo manifestado teve início no Big Bang e possivelmente terá um fim, se todo o universo for engolido por buracos negros (segundo algumas hipóteses), mas não acabará na dimensão das ideias (ou arquétipos) e possibilidades quânticas.

Goswami esclarece a origem do tempo: 


Na interpretação idealista, o tempo é uma rua de mão dupla no domínio transcendente, mostrando sinais de irreversibilidade apenas aproximada de movimento de objetos cada vez mais complexos. Quando a consciência produz o colapso da função de onda do cérebro-consciência, ela manifesta o tempo unidirecional subjetivo que observamos. (Goswami, 2007, p. 129).

Ainda não há uma teoria definitiva sobre o Big Bang. Segundo Greene (2005, p. 328-352), a mais conhecida é a da Inflação, segundo a qual o Universo iniciou sua evolução a partir de uma flutuação quântica num caótico ponto infinitesimal e se expandiu de forma acelerada para formar a matéria, a energia, as galáxias e estrelas.

Esta proposta, porém, não explica a escolha de um universo dentre muitas possibilidades.

A mensuração quântica feita pela consciência
 
Combinando a teoria da inflação com as conclusões da física quântica e do idealismo filosófico, podemos dizer que o universo já existia de forma virtual (em possibilidade) entre muitos outros no nível das superposições quânticas e passou a existir devido a observações feitas pela consciência. Através das observações feitas pela consciência da primeira célula viva, produziu-se um colapso quântico nas possibilidades da matéria.

A observação provoca um colapso nas superposições quânticas e seleciona uma história na qual as flutuações quânticas começam a se expandir e a formar as partículas, a matéria e a energia como as conhecemos.

O Princípio Antrópico
 
A partir do ponto inicial o Cosmos desenvolve suas leis de acordo com as potencialidades selecionadas pela consciência manifestada e segundo as necessidades de todos os seres que vão se manifestar no Universo. Esta é uma realização do Princípio Antrópico.

O comportamento das partículas e as constantes físicas do Cosmos são causados pelas escolhas feitas pela consciência.

Aqui vemos provas importantes da existência da consciência e das possibilidades, pois as potencialidades do Cosmos mostram que elas são a base da existência. Há o Princípio Antrópico envolvido, uma vez que as leis cósmicas selecionadas levam em conta a presença da célula viva e o seu desenvolvimento como ser humano no futuro. Finalmente, o universo se assemelha a um organismo bem estruturado e surge de diversas designações da consciência.

A necessidade do observador imanente
 
Para Goswami (2005, p. 58, 249), o surgimento do observador consciente (a primeira célula viva) marca o início do espaço e do tempo reais e possivelmente haverá um fim para a dimensão espaço-temporal.

De acordo com Goswami (2005, p. 63, 64, 132), para a formação do mundo físico deve haver uma mensuração quântica nas ondas da matéria através da correlação da consciência com organismos biológicos, porque neles ocorre a separação entre sujeito e objeto e só nos seres encarnados são exercidas a associação, a percepção, a inteligência, a emoção, a memória e o propósito. Portanto, a consciência não se correlaciona ou se identifica com objetos inanimados.

Não existe colapso das possibilidades quânticas sem mensuração e não há mensuração sem um observador. Contudo antes que as possibilidades do universo físico evoluíssem, a consciência já fazia escolhas (ou mensurações) no domínio transcendente das possibilidades. O importante é compreendermos que as realizações da consciência só se dão no papel do observador.

A respeito da necessidade da imanência do observador, Goswami diz:

A consciência é a base da existência; não podemos desligá-la. Portanto, será que a consciência faz uma escolha sempre que surge uma ambigüidade? Ora, nesse caso, não haveria padrão de interferência de dupla ranhura, pois a consciência já teria escolhido a ranhura pela qual o elétron passaria, antes que este tivesse a chance de interferir com seu alter ego. A resposta a este enigma está em perceber que cada mensuração quântica precisa de um observador senciente. (Goswami, 2005, p. 44).

A superposição quântica de universos possíveis
 
Como é possível que a mensuração feita por uma única célula realize a manifestação do universo? É porque existe uma onda de possibilidade inteira para todo o cosmos. Havia várias ondas que ofereciam opções para vários tipos de universos. Por isso, a mensuração feita pela célula colapsou a onda de um universo possível e todos os demais universos possíveis ficaram afastados da existência.

É através do colapso das ondas de possibilidades que se formam os corpos físicos. Esse colapso é feito pela consciência manifestada, que assim se identifica com o ego. Mas esse ego terreno é uma identificação da nossa consciência primordial.

O estado original da consciência
 
A consciência como base do ser nunca teve princípio e nunca terá fim e os potenciais para a iluminação existiam desde o princípio. Essas ondas de possibilidade geram na consciência o desejo de manifestação.

Antes da manifestação não havia ainda separação de sujeito e objeto, tudo era como um sono criativo. Esse era o estado da consciência primordial.

Em um dado momento, porém, a consciência tem o desejo de manifestar as ondas de possibilidade. Com a manifestação ela inicia um processo de involução, caindo num estado de inconsciência. A consciência manifestada caiu na ilusão, mas a pureza ainda existia em estado inconsciente.

No domínio transcendente e na dimensão física começou a separação entre sujeito e objeto. O domínio transcendente das possibilidades era a realidade onde a consciência existia originariamente. No mundo físico ou manifestado o aspecto primordial do espírito continuou em estado inconsciente, impulsionando a mente para a iluminação.

A consciência que vivia no domínio transcendente não tinha conhecimento de nenhum objeto físico ou forma, mas realizava uma contemplação imperfeita da unidade e permanecia integrada.

A manifestação retroativa do Universo
 
Com a evolução das possibilidades que formam o universo físico, surge o complexo de possibilidades da célula viva. Nesse momento, a consciência, oriunda do domínio transcendente (ou das possibilidades) entra em correlação com as possibilidades da célula viva e realiza o colapso quântico. Esse colapso traz para o mundo manifesto uma possibilidade de universo adequada para a existência da vida. Neste caso, a escolha para o colapso quântico é retroativa. O Universo se manifesta de forma retroativa no tempo, desde o Big Bang ao surgimento da célula viva. Isto é possível porque a linha do tempo, assim como o espaço, também são possibilidades designadas pela consciência.

Antes da observação feita pela consciência correlacionada com a primeira célula viva, o universo existia num domínio de possibilidades, como diz Goswami:

Essa maneira de interpretar nossa história cosmológica pode, talvez, ajudar a explicar os aspectos enigmáticos da evolução da vida e da consciência, isto é, que só há uma probabilidade muito remota de evolução da vida a partir de matéria pré-biótica, por meio de mutações benéficas que resultaram no aparecimento do homem. Uma vez que reconheçamos que a mutação biológica (que inclui a mutação de moléculas pré-bióticas) é um evento quântico, compreendemos que o universo bifurca-se em todos os eventos desse tipo no domínio transcendente, transformando-se em muitos ramos, até que em um deles há um ser senciente que pode olhar com consciência e completar uma medição quântica. Nesse ponto, a trilha causal que leva a esse ser senciente entra em colapso e se transforma em realidade espaço-tempo. John Wheeler chama a esse tipo de cenário de fechamento do circuito do significado, por meio de “participação do observador”. (Goswami, 2007, p. 171, 172).

O autor continua: 

Um objeto quântico percorre um caminho ou ambos, exatamente em harmonia com nossa escolha. Como isso é possível? É que os caminhos dos objetos são apenas caminhos "possíveis", os objetos são apenas ondas de possibilidades antes que nossa observação faça com que se manifestem. Nenhum caminho está concretamente traçado; as possibilidades tornam-se realidade de forma aparentemente retroativa, o que parece ser uma causação "à ré".
Um comentário à parte: não existe objeto quântico manifestado enquanto não o "vemos", mesmo que o objeto seja o cosmos. Não existe cosmos manifestado — apenas possibilidades — enquanto o primeiro ser senciente (presumivelmente, a primeira célula viva) não observa o universo. A observação faz com que o universo entre em colapso, juntamente com todo o caminho causal que levou àquela primeira senciência, retroativamente. E a observação é auto-referencial — a senciência da primeira célula viva é co-criada juntamente com o universo. (Goswami, 2005, p. 58).
  
A consciência desses seres vivos, com sua escolha, produziu um universo em que há consenso sobre o ambiente, porque a consciência é universal e individual ao mesmo tempo.

Após uma nova divisão sujeito-objeto no mundo físico, aprofunda-se a ilusão da alma, mas ela continuava permeada pelos potenciais, ou lembranças do estado original, que impulsionavam a alma para a iluminação. A ilusão é reforçada pelas escolhas da consciência dentre as ondas de possibilidade quânticas, que tornam o ser iludido quanto à sua verdadeira natureza.

A necessidade da manifestação
 
Foi o desejo de transformar as possibilidades em manifestação que levou a consciência à sua escolha de deixar o seu estado original e realizar a separação sujeito-objeto primeiramente no domínio transcendente das possibilidades e depois no mundo físico. Algumas correntes espirituais veem essa escolha de forma negativa, acreditando que foi um erro ou queda, outras enxergam de forma mais positiva, como uma busca de iluminação e realização por parte do espírito.

A iluminação
 
Se a consciência não tivesse saído do estado original, e se não saísse do domínio transcendente, nunca atingiria a iluminação, pois nesses estados ela só conhecia as possibilidades e não poderia adquirir certos conhecimentos que só a vida concreta pode proporcionar. Gerar os mundos espirituais e os mundos físicos é a chance de transformar aquilo que é potencial em algo que é real, ou seja, a iluminação.

A alma têm todas as potencialidades que a permite alcançar a iluminação. No nível mais profundo do espírito as almas estão todas interconectadas. Nosso estado mental superior inspira nossa alma iludida para que se desenvolva e retorne para a interconexão dos seres, sem perder a individualidade.

O fim do universo físico
 
O destino final dos seres que selecionaram o universo não é viver para sempre no mundo físico. Quando chegar ao tamanho máximo, nosso universo quadridimensional será reabsorvido pela dimensão das superposições quânticas e da consciência. A matéria e as dimensões sofrerão uma contínua expansão até ao ponto de diluição.

Com a diluição final do Universo físico, será o fim dos seres encarnados que ainda existirem nesse universo físico. Seus espíritos, porém, viverão inicialmente no mundo espiritual inferior. Desta condição elas passam para o nível dos espíritos superiores, onde muitas almas iluminadas já vivem.

Digo inicialmente, pois o destino final dos espíritos é se identificarem com o nível puro da consciência primordial. É claro que nesse estágio já não terão mais forma e não estarão sujeitos ao tempo e ao espaço. Contudo, ainda possuiremos nossa individualidade interconectada com todos os seres.


Referências

Goswami, Amit. A Física da Alma; tradução Marcello Borges – São Paulo: Aleph, 2005.

Goswami, Amit. O Universo Autoconsciente: como a consciência cria o mundo material. Tradução Ruy Jungmann. – São Paulo: Aleph, 2007.

Greene, Brian. O Tecido do Cosmo; São Paulo: Companhia das Letras, 2005.